China in TownComida – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Diário de viagem – o caviar chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/12/diario-de-viagem-o-caviar-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/12/diario-de-viagem-o-caviar-chines/#respond Sat, 12 Dec 2015 12:00:35 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=554 A terceira parte da viagem pela China em busca dos ingredientes mais desejados da culinária internacional me levou ao lago Qiandao, cerca de duas horas e meia de carro de Hangzhou (Leste chinês).

No meio do “lago das mil ilhas”, envolto pela natureza mais exuberante que já vi na China, a empresa Kaluga Queen cultiva esturjões para a produção de caviar.

Esturjão cultivado em uma fazenda no lago Qiandao
Fazenda de esturjões no lago Qiandao, Leste da China (Edmond Ho/ divulgação)

Nessa fazenda, a Kaluga tem 5 mil toneladas de peixes, de diferentes espécies, com idades entre seis meses e 11 anos. Os peixes são levados ainda vivos para a região de Quzhou, onde fica a fábrica que processa e empacota o caviar. O processo de abrir a barriga do peixe para retirar as ovas, fazer a limpeza, adicionar sal e acomodá-las na embalagem leva 15 minutos.

A Kaluga começou a colocar o produto no mercado em 2006. Hoje detém 80% da produção de caviar da China, oferecendo cerca de 45 toneladas por ano de diferentes variedades. Metade da produção é de um caviar que chamam de híbrido (do cruzamento dos esturjões kaluga e amur) e que, segundo a empresa, vem de um peixe que só é cultivado na China.

Apesar da forte produção nacional, somente 5% do caviar Kaluga fica no mercado doméstico. Pode ser encontrado, por exemplo, no restaurante Opera Bombana, em Pequim, do premiado chef italiano Umberto Bombana. Ainda na capital chinesa, o caviar da Kaluga está no menu do restaurante Dadong, de uma rede famosa por servir o tradicional pato de Pequim. O hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai também serve as ovas nacionais.

Terrence Crandall, chef executivo dos restaurantes do Peninsula, diz que optou pelo caviar chinês desde a abertura do hotel, em 2009. “No início, eu queria o caviar iraniano. Mas estava lidando com um fornecedor suíço, que também exporta o Kaluga. Testamos o caviar nacional e ele era muito bom.”

No jantar de abertura do Peninsula, foram servidos 75 kg de caviar. Nenhum tipo de caviar vendido pela Kaluga sai por menos de R$ 3.800 o quilo, sendo que o mais caro (o beluga) custa mais de US$ 25 mil o quilo.

Han Lei, vice-presidente para o mercado internacional da Kaluga, conta que teve que superar o preconceito que ronda todos os produtos chineses. “No começo, as pessoas não acreditavam que a China poderia produzir bom caviar. A Lufthansa, por exemplo, fez um teste às cegas e duas variedades do nosso caviar ganharam primeiro e segundo lugares. Aí eles começaram um negócio conosco.”

Crandall, o chef, me disse que o público chinês tem dado mais valor aos produtos nacionais por perceber que podem ter boa qualidade. E que o chinês gosta de ver itens de luxo na mesa, assim como gosta de grandes marcas de carros e roupas. “Trufas e caviar não eram consumidos na China. Como Ferrari e outras marcas, eles gostam de ver isso no menu.”

Essa viagem que me levou a três pontos do país em busca do caviar, trufas e vinho nacionais foi um convite do hotel Península Shanghai, que também me cedeu as fotos do fotógrafo Edmond Ho, do estúdio Jambu, de Cingapura.

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Diário de viagem – o novo vinho chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/30/diario-de-viagem-o-novo-vinho-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/30/diario-de-viagem-o-novo-vinho-chines/#respond Mon, 30 Nov 2015 12:00:37 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=542 No início de novembro, eu embarquei em uma inusitada viagem por três regiões da China, em busca de alguns ingredientes de destaque na gastronomia internacional: a trufa, o vinho e o caviar. No caso, todos “made in China”.

Num post anterior, falei sobre a primeira perna dessa aventura, a ida à província de Yunnan, em busca das trufas. O relato completo foi publicado pela Folha, na semana passada.

Nosso destino seguinte era o Norte do país, na região autônoma de Ningxia, de onde andam saindo os vinhos mais premiados da China –vieram dessa região 36 das 43 medalhas concedidas à China no prêmio Decanter Asia Wine Awards 2015.

Com a proximidade do inverno, os vinhedos temporariamente são enterrados no Norte da China
Com a proximidade do inverno, as videiras são temporariamente enterradas no Norte da China (Edmond Ho/ divulgação)

Deixamos a agradável Kunming (capital de Yunnan), no sudoeste chinês, para chegar numa fria e nublada Yinchuan (capital de Ningxia). A temperatura no Norte cai tanto durante o inverno, que as videiras precisam ser enterradas até que as temperaturas voltem a subir na primavera.

Yinchuan é uma cidade de avenidas largas, prédios novos imponentes e alguns bons hotéis. Um dos planos do governo local, desenvolvido nas últimas duas décadas, é aproveitar as terras para a produção de vinho.

Segundo me disse Hai Liu, proprietário da vinícola Legacy Peak, 74 empreendimentos já têm registro para produzir vinho na região, e outros 40 já estão em construção.

Os vinhos de Liu chegaram ao mercado, pela primeira vez, no ano passado. Hoje eles produzem três rótulos: um chardonnay, um cabernet sauvignon e um cabernet sauvignon com merlot. Em 2014, produziram 30 mil garrafas, mas pretendem dobrar a quantidade com o que estão fabricando este ano.

A família de Liu foi uma das pioneiras na plantação de cabernet na região, há 18 anos, com incentivo do governo e uvas importadas da França. Só em 2010, no entanto, ele resolveu parar de vender as uvas e começar a produzir seu próprio vinho.

Liu se aliou ao francês Edouard Duval, que tem uma importadora de vinhos em Xangai e é da família que produz o champanhe Duval-Leroy na França. Duval ajudou com o blend, os belos rótulos do vinho e é quem controla as vendas na China e, a partir desse ano, a exportação do Legacy Peak para Hong Kong e Europa.

Duval conta que a produção nacional de vinhos é majoritariamente focada no mercado doméstico, “que ainda quer as grandes marcas”. “É um desafio [atrair o chinês para o vinho nacional], é preciso convencer que agora há vinhos de boa qualidade.”

“O mercado na China só começou. Queremos orientar o consumidor chinês para o bom vinho”, concorda Emma Gao, proprietária da vinícola Silver Heights, uma das primeiras a chamar atenção para a região de Ningxia.

Antes de Liu ou Gao, no entanto, a região ganhou destaque na produção de vinhos em 2011, quando a vinícola Helan Qingxue alcançou o prêmio mais alto da Decanter, algo inédito para o país, com o vinho Jiabeilan Grand Reserve 2009. Foi quando Ningxia apareceu aos olhos do mundo.

Apesar desse crescente reconhecimento, realmente os vinhos chineses ainda são marginalizados nos cardápios dos restaurantes por aqui. Uma vez, quando perguntei pelo vinho nacional em um bom restaurante italiano em Pequim, ouvi como resposta que “ali, só havia vinhos bons”.

Outro porém a ser resolvido é o preço; o vinho chinês ainda é caro em comparação com os importados, explica Jean-Claude Terdjemane, sommelier do hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai. O hotel foi o primeiro estabelecimento de destaque a incluir o Legacy Peak em sua carta de vinhos –lá, o cabernet com merlot é vendido pela taça a cerca de R$ 116.

Terdjemane me disse que é prioridade para o hotel servir bons vinhos chineses, que são bem recebidos principalmente pelos clientes estrangeiros. Ele ressalva, no entanto, que é preciso saber triar bons de ruins. “Parece ‘o Eldorado’: quando algo vai bem na China, todo mundo quer fazer.”

Senti muita falta, em Yinchuan, de uma estrutura das vinícolas para receber os turistas, sobretudo os estrangeiros. Seria uma grande viagem descer na cidade para fazer o tour dos vinhedos, comer o excelente carneiro da região –que tem importante população de muçulmanos chineses– e aproveitar a bela vista das montanhas Helan.

Liu, da vinícola Legacy Peak, me disse que poucos empreendimentos estão abertos para o turista –e eu diria que, para o estrangeiro que não fala chinês, a viagem é uma empreitada mais que difícil. Quem sabe para o futuro?

A imagem que uso nesse post é do fotógrafo Edmond Ho, do Jambu Studio, em Cingapura. Foi cedida via o hotel Peninsula Shanghai, que me convidou para a viagem.

 

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Diário de viagem – trufas na China http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/diario-de-viagem-trufas-na-china/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/diario-de-viagem-trufas-na-china/#respond Thu, 26 Nov 2015 10:29:32 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=535 Eu pousei em Kunming, capital da província de Yunnan, em uma segunda-feira no início de novembro.

Era minha primeira viagem à “cidade da eterna primavera”, no sudoeste chinês, terra de uma gastronomia particular e bastante famosa no país: comida apimentada, com uma enorme variedade de cogumelos e pratos mais leves e coloridos –o que a diferencia muito da pesada culinária de Pequim, por exemplo.

Ali meu objetivo era um tanto inusitado: procurar trufas.

A caçada às trufas fez parte de uma viagem mais ampla, que me levou a três regiões do país em busca dos ingredientes mais desejados da gastronomia internacional: trufas, vinho e caviar. No caso, todos “made in China”.

A Folha publicou, nesta quinta-feira (26), duas matérias sobre a rica empreitada, uma sobre os ingredientes e outra sobre a viagem em si.

Até semanas atrás, eu desconhecia as trufas chinesas. Não é um ingrediente que costuma estar presente no cardápio nacional e nem algo com que se esbarre com frequência nos supermercados.

Segundo me disse Serko Wang, um chinês de Xangai que comercializa as trufas de Kunming, o mercado doméstico para as trufas está crescendo, mas a maior parte das vendas dos últimos anos teve foco na exportação (no caso dele, para Alemanha, Espanha e França) e nos restaurantes ocidentais.

“A tradição chinesa não conhece a trufa, usa para dar para os porcos. Estamos tentando desenvolver receitas para nossos clientes chineses. Agora descobriram o tesouro e o negócio está feito”, diz ele.

Quem procurar sobre as trufas chinesas na internet vai encontrar muitos europeus bravos com elas. Muitos denunciam que o ingrediente chinês, mais barato, tem menor sabor e perfume e é indevidamente misturado às preciosas trufas francesas e italianas.

Acompanhei alguns agricultores na caça às trufas em uma mata de um pequeno vilarejo de Yuxi, cidade colada a Kunming. Wang explica que a trufa ali é selvagem, a Tuber indica. Um quilo do alimento é vendido a mais de R$ 1.000 no varejo.

A melhor época para retirar as trufas da terra, em Yuxi, é entre janeiro e fevereiro. Antes disso, o risco é colher um ingrediente insosso –a que eu provei lá, retirada da terra em novembro, deixaria os franceses e italianos bravos com razão.

Trufas colhidas em Yuxi, cidade próxima a Kunming
Trufas de um vilarejo da cidade de Yuxi, próxima a Kunming (Edmond Ho/ divulgação)

Wang conta que a terra que visitamos é livre para que qualquer pessoa procure pelas trufas, o que faz com que elas sejam recolhidas pelo primeiro que aparece e não dá o tempo adequado para o amadurecimento.

Terrence Crandall, chef executivo dos restaurantes do hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai, diz que começou a usar as trufas de Yunnan há cerca de um ano, inicialmente pela dificuldade de importação do ingrediente europeu. Apesar da pressa na caçada, quando retiradas da terra no momento certo, continua o chef americano, elas são, sim, saborosas.

“A qualidade está melhorando, estão aprendendo a época certa de colher. O desafio parece ser esse”, diz ele.

Mata de vilarejo em Yuxi, cidade próxima a Kunming, onde podem ser encontradas trufas
Mata de vilarejo em Yuxi, cidade próxima a Kunming, onde podem ser encontradas trufas (Johanna Nublat)

Em Yuxi, caçar trufas é uma atividade econômica complementar e fica concentrada a uma época do ano apenas. A maior parte da renda dos agricultores vem mesmo do que eles plantam na terra, como legumes e frutas, e dos famosos cogumelos de Yunnan.

Visitamos a casa de Mao Xinping, 44, que tinha guardadas na geladeira algumas cestas de trufas encontradas nos dois dias anteriores a nossa visita. Perguntei se a família comia as trufas e como comia. Ele disse que, sim, comem quando têm vontade, e que cortam em fatias e refogam com pimenta chili.

Trufas de Yunnan podem custar mais de R$ 1.000 o quilo no varejo
Trufas de Yunnan podem custar mais de R$ 1.000 o quilo no varejo (Edmond Ho/ divulgação)

O chef Terrence, do Peninsula, nos serviu um jantar ao final de uma semana de viagem, quando voltamos a Xangai, ponto de partida e de chegada dessa inusitada exploração gastronômica.

A trufa de Yunnan foi uma bela surpresa na sobremesa do jantar: um sorvete de avelã e trufa, com espuma de chocolate e um toque de cacau. Aquela trufa, madura, tinha sabor.

Trufas de lado, a viagem também foi uma bela oportunidade para conhecer a enorme variedade de cogumelos da região, servidos refogados com carnes e legumes ou em sopas. Me marcou, em especial, uma sopa de cogumelos com caldo de frango, servida dentro de um bule.

Nos próximos dias, vou contar aqui no blog sobre os outros trechos dessa viagem, que me levou à nova região produtora de vinhos da China (Ningxia, ao Norte do país) e atrás do caviar nacional.

Duas das fotos usadas nesse post foram cedidas pelo fotógrafo Edmond Ho, via o hotel Peninsula Shanghai (que me fez o convite para toda essa viagem). Edmond é um fotógrafo baseado em Cingapura,  do Jambu Studio.

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Jiang , a nossa chef chinesinha http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/09/18/jiang-a-nossa-chef-chinesinha/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/09/18/jiang-a-nossa-chef-chinesinha/#respond Fri, 18 Sep 2015 21:40:56 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=493 Quando está com preguiça, ela faz “comida normal”, como estrogonofe e macarronada.

De contrário, a chinesinha mais popular do Brasil no momento, Jiang Pu, se dedica às intricadas receitas do seu país de origem —mesmo que use como base o nada gourmet miojo.

Em entrevista ao “TV Folha”, a integrante do “MasterChef” (da Band) que encantou o Brasil detalhou algumas de suas rotinas em casa. Questionada sobre suas preferências chinesas, disse que também faz “comida normal”.

“Quando está com preguiça, filé mignon. Às vezes dá preguiça, faz uma macarronada (…) Faz um molho, cozinha o macarrão e pronto, pode servir”, resume em seu português carregado de sotaque.

Em comparação, continuou ela, o preparo de um prato chinês pode começar na véspera do almoço ou jantar.

A explicação da chinesa pode deixar muita gente confusa, já que o prato chinês costuma parecer um monte de verduras e carnes picadas e empilhadas. Onde está todo esse trabalho, Jiang?

De fato, é raro um prato chinês não envolver uma longa sequência de tarefas: comprar ingredientes frescos, picar legumes e carnes de forma a deixá-los super finos (e rápidos de fritar), marinar e massagear as carnes, adicionar variados molhos (molhos de soja de diferentes espessuras e concentrações, vinagre, vinho de arroz e amido dissolvido) e temperos.

Talvez Jiang, e todo o seu carisma aos 26 anos, consigam apresentar aos brasileiros esse lado da China pouco conhecido de nós, o da comida autêntica e livre de preconceitos.

Ainda na entrevista, questionada sobre os restaurantes verdadeiramente chineses de São Paulo, a chef soltou um “vocês não vão gostar, o jeito de fazer, o tempero”.

Quem sabe agora?

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Como viver sem a mandioca? http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/21/como-viver-sem-a-mandioca/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/21/como-viver-sem-a-mandioca/#respond Tue, 21 Jul 2015 14:00:50 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=452 É difícil pensar a gastronomia brasileira sem algumas de suas estrelas, como o pão de queijo, a farofa, o bobó de camarão, a tapioca, a mandioca frita e tão variados tipos de bolos.

Todos esses que citei têm em comum o fato de conterem mandioca ou farinhas dela derivadas –o que não se aplica, claro, a todos os tipos de bolo.

Essa paixão nacional, digamos, fez a presidente Dilma Rousseff “saudar a mandioca” em um discurso que deu o que falar, feito no mês passado. Nas palavras da presidente, a mandioca é “uma das maiores conquistas do Brasil”.

Pois bem, os chineses não comem mandioca. Em Pequim, é possível encontrar polvilho e pérolas de tapioca em alguns supermercados. E olhe lá.

Mas, curiosamente, a China é o maior importador de mandioca, usada basicamente para produção de biocombustível e para alimentar animais. Não vou dizer que nenhuma mandioca é comida nesse país tão grande –até porque há, por aqui, uma pequena produção–, mas, se é consumida como alimento, é em uma pequena proporção.

Não ter a mandioca por aqui é, possivelmente, o principal “golpe” contra a comida brasileira nesse canto do mundo. Feijão preto e marrom, leite condensado, azeite de dendê (“palm oil”), leite de coco, arroz e cachaça são encontráveis. Algumas frutas (como goiaba e maracujá) e doces (como os derivados das nossas frutas), por outro lado, ficam na lista dos difíceis (ou também impossíveis) de serem achados.

Talvez por isso e pela enorme distância cultural entre a China e o Brasil, os chineses conhecem muito pouco da nossa gastronomia. Em Pequim, hoje, há um restaurante que serve churrasco brasileiro, e um outro que tem uma brasileira como chef-executiva e, assim, carrega algum toque brasileiro no cardápio.

Quem mora em Pequim teve a chance de ver um pouco da cultura e culinária brasileiras entre o final de junho e o começo de julho, com o festival gastronômico brasileiro, organizado pelo hotel Renaissance (que sediou o evento nesse ano), pela Latam e pela embaixada do Brasil.

O comando das panelas foi do chef Elia Schramm, do Laguiole (no MAM-RJ), que listou no cardápio versões de feijoada, moqueca, brigadeiro, barriga de porco, cheesecake de goiabada, bacalhau e churrasco.

Funcionários de agências de turismo de Pequim durante aula de culinária brasileira
Funcionários de agências de turismo de Pequim durante aula de culinária brasileira (Johanna Nublat/ julho de 2015)

Um momento diferente no festival foi uma aula de culinária brasileira para representantes das principais agências de turismo de Pequim. No cardápio estava a moqueca, que, como resumiu o chef, parece ser mesmo um prato simpático para o público chinês.

“Peixe, pimenta e arroz. Tudo o que o chinês gosta.”

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A comida chinesa em dez passos http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/18/a-comida-chinesa-em-dez-passos/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/18/a-comida-chinesa-em-dez-passos/#respond Sat, 18 Jul 2015 13:00:31 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=447 Ao mesmo tempo em que parece um simples amontoado de carnes e legumes cortados, a comida chinesa também traz um desafio: descobrir o que é que eles colocam naqueles tantos molhos que acompanham qualquer prato no país.

Peixe ao estilo de Cantão
Peixe cozido no vapor ao estilo de Cantão (Johanna Nublat/ julho de 2015)

Para decifrar uma parte do mistério, aqui vão dez curtas explicações sobre a gastronomia chinesa:

  1. De forma geral, legumes e verduras não são servidos na forma crua. Mesmo quando está escrito “salada”, aposte que será refogado e servido com algum molho;
  2. Molhos, aliás, são presença garantida na gastronomia chinesa. Há muitas variações, a depender do prato e da região; geralmente envolvem algum tipo de shoyu (mais ou menos encorpado) e uma pitada de açúcar;
  3. Os chineses costuma dizer que o tempero básico nacional é feito de gengibre, alho e uma espécie de cebolinha. O uso de açúcar, mesmo que pouco, também é muito comum;
  4. Curiosamente, também é muito popular o uso de amido para engrossar os caldos;
  5. Manteiga e azeite, por outro lado, nem entram na cozinha do chinês; para fritar ou refogar, eles usam (litros de) óleos vegetais;
  6. Falando em óleo… é de arrepiar a quantidade de óleo usado nas woks chinesas: para fritar, refogar, dourar, temperar;
  7. De forma geral, leva-se mais tempo para preparar os legumes e as carnes do que para cozinhar esses ingredientes na wok; além de picar tudo de forma muito precisa (de forma a deixar o alimento fino e fácil de absorver os temperos), muitas das carnes são marinadas e massageadas; feito todo esse processo, o trabalho na wok pode levar menos de cinco minutos;
  8. O chinês não tem hábito de usar forno (há casas, aliás, que nem têm esse equipamento); basicamente, eles refogam, fritam e cozinham na chama do fogão; ou cozinham no vapor também na boca do fogão;
  9. Como ferramenta para cortar carnes ou picar legumes em tamanhos mínimos, o chinês usa uma só faca: uma espécie de cutelo, grande e bastante afiado; muitos dos chefs são julgados pelas habilidades com essa faca;
  10. Por fim, chega a surpreender como o chinês preza pelos detalhes na hora de comer: se tem molho suficiente, se a verdura está cortada da forma correta, se a carne foi frita rapidamente, se faltou a pitada de açúcar, etc etc etc. Ou seja, mesmo que pareça ser um simples amontoado de legumes e carnes, pode ter certeza de que o prato deu muito trabalho para ser feito.
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Com mercado de luxo para “pet”, China ainda come cachorro http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/06/25/com-mercado-de-luxo-para-pet-china-ainda-come-cachorro/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/06/25/com-mercado-de-luxo-para-pet-china-ainda-come-cachorro/#respond Thu, 25 Jun 2015 10:00:55 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=424 Nos últimos dias, a China ganhou atenção mundial por seu controverso festival de carne de cachorro de Yulin, em que 1 kg da carne do bicho era vendida a menos de R$ 20 nos mercados de rua.

 

Na mesma China, há poucos anos, um exemplar de mastim tibetano foi vendido a mais de US$ 1,5 milhão, valor que provocou alvoroço até fora do país.

Esses dois lados do tema “cachorro” relevam um país que, de um lado, mantém a tradição de comer o animal apesar de tanta gritaria e, de outro, vem sendo um dos mais promissores mercados de luxo para produtos “pet”.

Em 2012, a China tinha a terceira maior população de cães do mundo (cerca de 27 milhões), atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil, segundo dados do Euromonitor para o setor “pet”. Naquele mesmo ano, nós tínhamos cerca de 37 milhões de cachorros, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, também citando o estudo do Euromonitor.

A previsão dos especialistas é que o interesse (e o gasto) nesse setor de luxo que alcançou as classes mais ricas da China cresça em ritmo mais acelerado que no mercado norte-americano, o maior do mundo, informou a “Reuters” em uma matéria de junho desse ano.

Como mencionado no post anterior sobre o assunto, trata-se de uma verdadeira revolução em prazo curtíssimo na sociedade chinesa. O país passou de rejeitar a ideia “burguesa” de manter um cachorro como “pet” durante a Revolução Cultural de Mao Zedong (1966-1976) para gastar milhões em um cachorro da moda.

Impressionado com o mercado de luxo de cachorros na China, o VICE fez uma reportagem em que tenta explicar como um mastim tibetano –que, durante certo tempo, foi símbolo de status social– chegou a valer US$ 500 mil ou, em casos extremos, US$ 1,5 e US$ 3 milhões.

De toda forma, o tempo do mastim parece já ter passado, segundo uma matéria do jornal “The New York Times” de abril desse ano. A jornal diz que o mastim é “coisa de 2013”, assim como outros símbolos de luxo que rapidamente perderam espaço na sociedade, seja por desinteresse, pelo temor sobre os rumos da economia ou a campanha contra a corrupção.

O texto conta que os criadores da raça enfrentam, hoje, dificuldade para vender os animais mesmo a preços consideravelmente mais modestos. E que alguns cães da raça, abandonados, chegaram a ser resgatados por grupos de defesa dos animais do destino de virar comida barata.

Se esses foram resgatados a tempo, milhares de outros viraram comida nos últimos dias, em Yulin. Em sua última publicação, a página do Facebook dedicada a interromper o festival deste ano parabeniza os seguidores que ajudaram a dar publicidade à campanha contra Yulin e afirma esperar por uma mudança na China, no curto prazo. Nos resta esperar para ver –será que teremos um Yulin 2016?

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O mundo pede: não comam os cães http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/06/19/o-mundo-pede-nao-comam-os-caes/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/06/19/o-mundo-pede-nao-comam-os-caes/#respond Fri, 19 Jun 2015 14:00:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=418 Como tem acontecido em anos recentes, grupos em defesa dos animais e amantes da causa estão mobilizados para impedir, de alguma forma, a realização do festival de carne de cachorro de Yulin (sul da China), que acontece neste final de semana.

Contra o festival, em que milhares de cães são mortos e comidos em festas familiares, há abaixo-assinados na internet, cartas direcionadas ao governo da China e uma hashtag (#StopYuLin2015). Nos últimos dias, até atores famosos brasileiros se manifestaram contra a prática de Yulin.

A ideia de que todo chinês come cachorro é equivocada; hoje em dia, pelo menos, é difícil encontrar esse tipo de carne nas grandes cidades da China. E quem mora em cidades como Pequim abomina a ideia de comer o bicho.

Cães e gatos, entre outros “pets”, são extremamente populares no país. Essa adoração chega a níveis extremos, com pet shops de alto padrão e até um cemitério para os bichinhos nos arredores de Pequim –que tem como serviço, entre outros, velório para o amigo que partiu.

Mas essa devoção é relativamente recente. Principalmente nos duros anos da Revolução Cultural (1966-1976), cuidar com tanto carinho de um animal de estimação era visto como um péssimo hábito burguês e, assim, um comportamento a ser evitado a todo custo.

O blog do jornal “The New York Times” fez uma boa entrevista com Peter J. Li, especialista em proteção animal na China, sobre o hábito de comer cachorro.

Em seu site, o grupo Animals Asia afirma que a expectativa é que 2.000 cães sejam mortos este ano, para atender ao festival de Yulin. E que a pressão de grupos em defesa dos animais, no ano passado, conseguiu reduzir o número de animais mortos na última edição.

uma página no Facebook, com 55 mil curtidas, dedicada à tentativa de cancelar o festival.

O VICE fez uma reportagem bem interessante sobre uma das edições do festival, em que aborda o motivo da realização da festa, o que pensam os moradores da cidade a respeito de comer cachorros, os maus-tratos sofridos pelos bichos –há grupos que afirmam que parte dos animais é roubada de seus donos e vendida para o festival– e as manifestações, in loco, dos grupos em defesa dos animais.

Um aviso: ESSE VIDEO TEM IMAGENS QUE CHOCAM.

Dificilmente um festival tão enraizado na cultura popular local vai ser extinto num futuro breve. Ainda assim, defende a página no Facebook, a não ser em casos de fome extrema, “nunca um gato ou cachorro deveria perder a vida por métodos tão bárbaros em nome da tradição”. Veremos a repercussão.

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Quando elas ficam “pra titia” http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/25/quando-elas-ficam-pra-titia/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/25/quando-elas-ficam-pra-titia/#respond Mon, 25 May 2015 14:00:26 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=381 “Há dois anos, conheci um cara [chinês] em Sanlitun [bairro rico de Pequim]. Ele tinha uma casa grande e um Porsche. Ele me disse: ‘Estou atrás de uma mulher. Se você se sair bem, pode ser você’.”

“Depois de um ‘encontro às cegas’, eu disse para a minha tia que o cara não fazia meu tipo. E ela me disse:  ‘Mas você sabe que os casais não conversam muito entre si, né?’.”

As duas histórias são contadas pela chinesa Yolanda Wang, que, este ano, entra ainda solteira na casa dos 30 anos –o que faz dela, na China, um natural alvo de pressão social para o casamento. Esse “bullying” é, justamente, o tema da peça “The Leftover Monologues”, da qual Wang participa.

Montada pela jornalista norte-americana Roseann Lake, a peça reúne mulheres (e alguns raros homens) que apresentam um depoimento pessoal (e cômico, de forma geral) sobre a dificuldade de entrar na casa dos 30 ainda solteiras.

Pérolas de outras personagens (relatadas pela jornalista na semana passada, em um encontro em Pequim sobre a peça):

“Se comporte como a Mona Lisa”, aconselhou o pai, preocupado com as gargalhadas marcantes da filha.

“É bom aprender francês para parecer romântica.”

“Meu pai é como um técnico de futebol. Sobre arrumar um marido, ele me fala: ‘Vai! Vai! Vai!’.”

Quando trabalhava como correspondente em Pequim, Lake fez uma pesquisa aprofundada sobre a pressão sobre as jovens chinesas que se aproximam dos 30 anos sem um pretendente. Depois de ouvir mais de uma centena de depoimentos a respeito, a jornalista montou a peça e escreveu um livro –que deve ser lançado no próximo ano.

Uma primeira pergunta seria “por que essa aparente falta de homens num país em que eles sobram?”. Segundo Lake, em 2020, a China vai ter uma sobra de 30 milhões de homens em idade de casar.

Mas, explica a jornalista, essa “sobra” se concentra nas regiões mais pobres e rurais do país –reforçada pela política de filho único e a consequente preferência por filhos homens–, enquanto que as mulheres mais educadas e engajadas na carreira –que costumam ser as que “ficam para tia”– estão nos grandes centros urbanos.

Para completar, diz ela, ainda pesa o fato de a cultura empurrar os homens para casar, cultural e financeiramente, “para baixo” e as mulheres “para cima” –e, no caso da mulher rica e bem-sucedida no trabalho, “casar para cima” pode significar uma escolha bem restrita.

A peça, cujo nome faz referência ao “Vagina Monologues”, já foi encenada algumas vezes em Pequim, desde o ano passado. A próxima apresentação vai ser em Xangai, no dia 31 de maio.

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Escorpião pode comer, mas panda não http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/19/escorpiao-pode-comer-mas-panda-nao/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/19/escorpiao-pode-comer-mas-panda-nao/#respond Tue, 19 May 2015 15:35:53 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=371 Na semana passada, circularam algumas notícias por aqui sobre um panda que teria sido morto em Yunnan, província do sul da China. A polícia encontrou ossos, carne sendo vendida irregularmente e a pele do que seria, segundo testes de DNA, uma panda fêmea adulta.

Muitos bichos (e partes de bichos) exóticos são comidos na China, todo mundo sabe. Mas comer panda –o animal mais adorado do país e sempre sob risco de desaparecer– é algo que nem os chineses conseguem conceber.

E, no final das contas, a história parece ser um pouco mais longa e com origens nada gastronômicas.

Segundo uma matéria publicada pelo “China Daily”, tudo começou com a morte de uma ovelha em uma fazenda, em dezembro passado, por um animal desconhecido. Dois irmãos, em busca do “criminoso”, encontraram um bicho escondido em uma árvore na floresta. Dispararam um tiro, que derrubou o animal no chão. E, diz o jornal, já cientes de que se tratava de um panda, atiraram de novo para matar.

Ainda de acordo com o jornal, a polícia recebeu a denúncia de venda irregular de carne de urso, achou partes do animal e fez um teste de DNA, que identificou se tratar de um panda.

Além de prender dez pessoas pela venda da carne do querido animal, as autoridades desencadearam uma ampla busca por mais pandas na região, já que o panda assassinado é o primeiro a ser encontrado em Yunnan em tempos modernos, diz a imprensa local.

Lembrando que além de amados por aqui, o panda faz parte do “soft power” chinês, sendo alugado para zoológicos de países com os quais a China mantém boa relação, política ou econômica.

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