China in TownCotidiano – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Até logo, Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/14/ate-logo-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/14/ate-logo-pequim/#respond Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=573 Outro dia, em um restaurante de Pequim, me perguntaram se eu queria beber água fria ou quente.

“Quente”, respondi feliz, pensando na sensação aconchegante de receber um copo de água quente em um dia tão frio.

Há pouco mais de um ano, quando me mudei para a China, o hábito chinês de tomar água quente durante as refeições me soava absolutamente esquisito. E perigoso, já que a água servida nos restaurantes vem no copo –ou seja, sabe-se lá de onde aquela água sai.

Comer de “kuaizi” (os dois palitinhos) ou de talher se tornou indiferente ao longo desse tempo; na maior parte das vezes, não me dou conta se estou usando um ou outro. Os pratos pedidos nunca chegam juntos numa mesa de restaurante, já nem espero para começar a comer.

Nesse tempo, aprendi a enfrentar o trânsito caótico de Pequim: primeiro como pedestre, depois como motorista e, por fim, ciclista. Ainda não consigo dizer qual é a forma menos agressiva (a mais estressante, certamente, é atrás do volante).

Viajar se tornou um prazer nos confortáveis trens chineses. Em trem rápido ou local, já cruzei esse país de Norte a Sul seis vezes. Em todas elas, carreguei minha lancheira para as longas horas da viagem, como sempre fazem os chineses.

Tive o susto inicial de não encontrar nada barato para comprar (não é tudo feito aqui?), para depois descobrir o que é barato e onde encontrar as pechinchas. Ah, sim, sempre barganhando, algo que exige uma paciência infinita.

No primeiro semestre, fiquei doente todos os meses. Depois aprendi onde comer e/ou me acostumei com os germes locais (talvez seja a tal da água quente?!).

As três grandes dificuldades da temporada, que se encerra agora: 1) A poluição que, de tempos em tempos, avança sobre Pequim e deixa todos deprimidos; 2) A língua, que exige muita dedicação para ser aprendida (e, sem ela, a vida se torna bem complicada); 3) A distância do Brasil, física e “psicológica”, digamos.

Os chineses com quem convivi foram calorosos, curiosos e relaxados, o que me faz pensar que são bem parecidos conosco brasileiros –sem falar no amor pelo futebol e por nossos jogadores. Por outro lado, alguns hábitos e a dificuldade da língua podem fazer alguém pensar que pousou em outro planeta.

Deixo Pequim no final desta semana, e a China segue sendo um mistério para mim.

Obrigada pela leitura!

]]>
0
Como a poluição rouba a beleza de Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/#respond Thu, 07 Jan 2016 11:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=569 No domingo (3), pousei em Pequim depois de alguns dias fora do país. Deixando para trás o céu azul e sem nuvens em que voou durante todo o caminho, o avião se aproximou da capital chinesa entrando em uma neblina marrom: voltei para casa num dia bastante poluído.

Me mudei para Pequim há pouco mais de um ano. E, ainda hoje, ter que lidar diariamente com a poluição é algo que surpreende.

Usar máscaras quando sair à rua em dias de maior concentração de partículas ruins no ar, deixar as janelas de casa constantemente fechadas, ter dois purificadores de ar ligados 24 horas por dia dentro de casa, pensar duas vezes antes de sair para passear em dias poluídos, ficar feliz com dias de céu azul e ar fresco, achar estranho quando é possível ver nitidamente o contorno dos prédios. Ou ainda moderar seu humor a depender “da cor” do dia.

Tudo isso integra um mundo novo, incrivelmente distante do cotidiano de alguém que cresceu em Brasília. E, infelizmente, tão frequente em várias cidades do Norte da China.

Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, a concentração média de partículas PM2.5 (aquelas bem pequenas, que entram nos pulmões e potencialmente provocam danos) em Pequim, no ano de 2015, foi mais que o dobro da meta nacional.

O ar da capital só atingiu a meta estabelecida pela China em 186 dias no ano passado. Apesar desses dados negativos, a qualidade do ar melhorou levemente se comparada com o ano de 2014, continua a Xinhua, com 6,2% de redução na concentração de PM2.5.

A poluição do ar é um tema sensível para chineses e para os estrangeiros que moram nos locais mais afetados. Durante picos de poluição, é comum ver pessoas reclamando de dor de cabeça, irritação na garganta e olhos. E ouvir gente conversando sobre a possibilidade de deixar Pequim em busca de melhores ares.

Pequim é uma grande cidade, capaz de oferecer cultura, diversão, bons restaurantes e vida confortável. É uma pena que, em quase metade dos dias, toda essa beleza acabe “nublada” pelo ar ruim.

]]>
0
As escravas sexuais da China e de Taiwan http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/30/as-escravas-sexuais-da-china-e-de-taiwan/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/30/as-escravas-sexuais-da-china-e-de-taiwan/#respond Wed, 30 Dec 2015 13:58:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=566 Japão e Coreia do Sul anunciaram, essa semana, ter resolvido “de vez” um longo conflito a respeito das chamadas “mulheres de conforto”, mulheres recrutadas ou sequestradas para trabalharem em bordéis usados por militares japoneses até a década de 40.

Segundo o acordo, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, vai pedir desculpas às mulheres sul coreanas escravizadas para fins sexuais, e o Japão vai doar cerca de R$ 33 milhões a um fundo destinado a dar apoio às vítimas. A negociação também sela esta solução como final e irreversível sobre o tema, e determina o fim das discussões públicas.

O acordo foi criticado por sobreviventes na Coreia do Sul, que reclamaram da ausência de responsabilização legal dos japoneses e de terem sido excluídas das negociações. Já chineses e taiwaneses reclamaram de terem sido deixados de fora do acordo.

Estima-se que 200 mil mulheres tenham sido escravizadas para fins sexuais pelos japoneses, incluindo as sul coreanas, chinesas e taiwanesas. Poucas delas ainda estão vivas.

Segundo reportou a “BBC”, o governo de Taiwan afirmou que quer “negociações imediatas” com o Japão sobre o tema. Os chineses, por outro lado, lembraram que o recrutamento das escravas sexuais foi um “sério crime contra a humanidade” cometido pelo Japão.

Em um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira (30), o “China Daily” afirma que as desculpas são bem-vindas, mas não são suficientes. “Dado que o acordo japonês com a Coreia do Sul é, principalmente, politicamente orientado, ao invés de ser uma reflexão verdadeira sobre suas responsabilidades, o movimento não é o suficiente para significar que o Japão está pronto para reconhecer verdadeiramente seu passado.”

 

]]>
0
O fetiche chinês pelos pés http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/o-fetiche-chines-pelos-pes/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/o-fetiche-chines-pelos-pes/#respond Mon, 21 Dec 2015 13:33:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=563 Até o início do século passado, os homens chineses tinham atração por pés pequenos. Mas muito pequenos: de até dez centímetros.

Eram os “lírios dourados de oito centímetros” ou “pés de lotus”, conseguidos por meio de uma prática milenar e dolorosa em que os ossos dos pés de meninas bem pequenas (dois anos de idade por exemplo) eram quebrados. Os pés eram, então, enfaixados de forma bem apertada e colocados em sapatinhos coloridos e bordados.

Para a vida toda, essas meninas e mulheres caminhariam sem estabilidade e com dor, teriam que trocar as faixas e retirar partes de carne morta dos pés.

“Não apenas se considerava erótica a visão de uma mulher cambaleando sobre pés minúsculos, mas os homens se excitavam com eles, sempre ocultos sob sapatos de seda bordada. As mulheres não podiam retirar as faixam nem quando já estavam adultas, pois os pés recomeçariam a crescer. A faixa só podia ser afrouxada temporariamente à noite na cama, quando elas calçavam sapatos de sola mole. Os homens raramente viam nus os pés enfaixados, em geral cobertos de carne podre e malcheirosos quando se retiravam as faixas”, conta a autora Jung Chang, no livro “Cisnes Selvagens”.

Até a segunda década do século passado, quando a prática foi proibida na China, mulheres de “pés grandes” poderiam ter grande dificuldade para se casarem, o que fazia com que mães e avós obrigassem as meninas a enfrentar tamanho sofrimento.

O que parece tão ultrapassado incrivelmente ainda está vivo nas cidades chinesas. Em um trabalho recente, a fotógrafa inglesa Jo Farrell documentou algumas dezenas de sobreviventes dos pés enfaixados que moram no país –muitas vezes, presas em casa pela idade e pela dificuldade extra de locomoção.

Algumas das fotos da inglesa, impressionantes, podem ser vistas nessa matéria do “The Guardian”.

Um estudo publicado em 1997 no “American Journal of Public Health” avaliou os pés de 193 mulheres com 70 anos ou mais que moravam nos distritos centrais de Pequim. Do grupo de mulheres com 80 anos ou mais, 38% tinham os pés enfaixados; entre as com idades entre 70 e 79 anos, o percentual caía para 18%; e 33 das 193 mulheres tiveram os pés enfaixados quando crianças, mas eles foram liberados das faixas ainda cedo na vida delas.

Um vídeo curtinho no site do “The Telegraph” mostra uma senhora de 95 anos, em Pequim, cambaleando sobre seus pés pequenos e contando diretamente sua experiência.

]]>
0
O “airpocalipse” chegou a Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/#respond Tue, 01 Dec 2015 10:00:08 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=547 Acordei esta manhã, dei alguns passos pela casa estranhamente escura, olhei pela janela e pensei “mas não tinha um prédio ali?”.

Tinha. Quer dizer, ele ainda está lá, mas “escondido” por uma neblina espessa e marrom. Segundo medições feitas pela embaixada americana em Pequim, o ar da capital chinesa está “mais que perigoso” desde ontem.

O “China Daily” informou que essa é a pior onda de poluição na capital, este ano.

Esta era a vista da minha janela na manhã desta terça (1º):

Vista da janela mostra densa neblina marrom impedindo a visualização dos prédios
Vista da janela no bairro de Chaoyang, Pequim, por volta das 7h de terça-feira (1º) (Johanna Nublat/ dezembro 2015)

Aqui a vista da mesma janela, num dia de ar limpo na semana passada:

Vista da mesma janela, na semana passada, mostra céu azul e diversos prédios
Vista da mesma janela, na semana passada (Johanna Nublat/ novembro de 2015)

Enquanto o mundo olha para Paris e para a COP21, por muitas horas entre segunda-feira (30) e terça (1º), Pequim registrou um AQI (índice da qualidade do ar) péssimo, superando 500, marca até onde a poluição costuma ser medida e divulgada pelo Twitter da embaixada americana. Às 21h de ontem, o índice alcançou 609.

Pela conta na rede social, a embaixada divulga, hora a hora, a concentração de PM 2.5 (partículas no ar pequenas o bastante para chegar aos pulmões e provocar danos) e o índice correspondente a essa concentração.

O ar é considerado bom com um AQI até 50; moderado de 51 a 100; ruim para a saúde para grupos sensíveis de 101 a 150; ruim para a saúde de 151 a 200; muito ruim para a saúde de 201 a 300; e perigoso de 301 a 500 –em todos esses casos quando considerada uma exposição de 24 horas sob tal concentração de partículas.

Quando o ar está “perigoso”, a sugestão é evitar todas as atividades ao ar livre.

E quando está mais que perigoso, o que fazer?

Ontem, quando a densa névoa já tomava conta da cidade, eu vi uma proporção maior de pessoas cobrindo o rosto com máscaras ou cachecóis, pessoas comprando máscaras e muita gente impressionada. Mesmo para os padrões poluídos da capital, a atual onda marrom choca.

De acordo com matéria do “China Daily” de hoje, a cidade de Pequim ordenou que 2.100 empresas do ramo das indústrias mais poluentes suspendessem seus trabalhos e que todas as obras fossem interrompidas.

Incrivelmente, ainda há quem se inspire entre tanta fumaça. O site Shanghaiist fez uma matéria sobre um artista chinês que passou 100 dias sugando o ar de Pequim com um aspirador de pó. Depois transformou toda a sujeira em um tijolo.

A previsão é que, a partir desta quarta (2), uma corrente de ar frio vinda do Oeste leve daqui a densa névoa. Até lá, boa parte dos habitantes de Pequim vai ficar em casa, trocar os filtros de seus purificadores de ar e olhar pela janela esperando novos ares.

]]>
0
Pequim às voltas com a lei antifumo http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/25/pequim-as-voltas-com-a-lei-antifumo/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/25/pequim-as-voltas-com-a-lei-antifumo/#respond Wed, 25 Nov 2015 10:42:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=533 Na última segunda-feira (23), levei alguns minutos para entender que, sim, alguém fumava no interior de um pequeno restaurante no bairro mais internacional de Pequim, Sanlitun.

Há quase seis meses, está em vigor na capital chinesa uma lei antifumo que proíbe fumar em ambientes fechados de acesso ao público. A regra é considerada muito boa pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que vê no sucesso da lei de Pequim a chance de expandir o veto ao fumo para todo o país.

A estimativa é que 301 milhões de pessoas fumem na China –um Brasil e meio de fumantes–, cerca de 28,1% dos adultos.  No Brasil, como comparação, a taxa de fumantes está estimada, hoje, em 10,8%.

A maior parte dos fumantes chineses é homem (52,9% dos homens adultos fumam), enquanto só 2,4% da população adulta feminina fuma.

Logo no início da vigência da lei, a cidade parecia ter se adaptado. Os principais restaurantes e bares da cidade tinham afixado placas informando sobre a proibição e banido a fumaça de seu interior.

Mas… o inverno está chegando, com temperaturas que já caem a -8ºC. E a batalha parece ter ficado mais complicada.

Nesta quarta (25), o braço da OMS na China soltou uma nota alertando para a necessidade de manter firme o combate ao fumo nos próximos meses.

“Informações novas indicam que, em outubro, 4.000 estabelecimentos de Pequim foram inspecionados, com violações em mais de 350 deles”, diz a OMS. “No entanto, as últimas informações disponíveis também mostram que as ligações para a hotline 12320 [que recebe denúncias de fumo em locais proibidos] tiveram um pico nos dois primeiros meses de vigência da lei [junho e julho], levando a OMS a reiterar a importância de um esforço continuado na aplicação da lei.”

No restaurante de Sanlitun, na segunda-feira, nem os clientes nem os garçons pareciam incomodados com a chinesa que fumava sem sobressaltos no ambiente totalmente fechado. E o inverno ainda nem chegou.

]]>
0
A volta das bicicletas em Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/#respond Wed, 18 Nov 2015 12:00:33 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=530 Na semana passada, o jornal “The New York Times” escreveu sobre os planos da cidade de Pequim para ampliar o uso de bicicletas como meio de transporte, opção que vem sendo cada vez menos usada pelos chineses da capital.

Segundo a matéria do jornal, apenas 12% dos residentes de Pequim usam bicicletas como meio de transporte hoje em dia, em comparação com 38% no ano 2000. E a meta, diz o texto, seria expandir o percentual para 18% até 2020.

Parece, no entanto, que não se trata de uma tarefa simples, mesmo num país famoso pela gigantesca quantidade de bicicletas. Em 2010, um jornal local informou que uma tentativa semelhante estava em curso em Pequim: naquele ano, 19,7% usavam bicicletas como meio de transporte, e a meta era expandir para 23% em 2015.

Por que não deu certo? E quais são as dificuldades do ciclista em Pequim?

A princípio, uma boa parte das ruas e avenidas tem uma faixa destinada a veículos não motorizados –o que inclui bicicletas, motos elétricas, tuc-tucs, patinetes elétricos e até cadeiras de roda motorizadas.

Mesmo assim, há dificuldades, como: 1) os vários carros estacionados nesses locais, por falta de vagas para carros em número suficiente na cidade; 2) alguns trechos sem a faixa específica; 3) o fato de bicicletas, motinhos e pedestres trafegarem nos dois sentidos nessas faixas, o que transforma esse espaço num verdadeiro caos.

Já ouvi de várias pessoas que o plano e andar de bicicleta em Pequim foi descartado por ser “perigoso”.

Outras dificuldades são o tamanho da capital, o que só permite o uso da bicicleta para trechos relativamente curtos, a frequência dos altos índices de poluição e o frio pesado durante o inverno.

Por outro lado e apesar desses entraves, usar a bicicleta pode ser a salvação nesta cidade de trânsito enlouquecedor. Pode, por exemplo, nos levar em 20 minutos de um ponto a outro num trajeto que, nos horários de engarrafamento, levaríamos até uma hora de carro.

No livro “Red China Blues”, a jornalista Jan Wong conta que, em 1981, só 20 residentes de Pequim tinham um carro particular. Hoje, menos de 35 anos depois, a cidade tenta lidar com uma frota de 5 milhões de veículos, engarrafamentos constantes e um alto –e criticado– nível de poluição. Será que voltam as bicicletas?

]]>
0
Déficit de mulheres na China é quase “um Canadá” http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/03/deficit-de-mulheres-na-china-e-quase-um-canada/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/03/deficit-de-mulheres-na-china-e-quase-um-canada/#respond Tue, 03 Nov 2015 12:32:10 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=515 A China tem, hoje, quase “um Canadá” de homens a mais que mulheres. Essa diferença supera 33 milhões de pessoas, segundo informações já divulgadas pela imprensa chinesa.

Esse não é um desequilíbrio normal, apesar de ser seguido de perto por outros países –boa parte também na Ásia. A China tem, atualmente, a taxa de desigualdade de gênero no nascimento mais alta do mundo, diz uma análise divulgada, em 2014, pelo Unicef China (braço das Nações Unidas para a infância).

“Dados do censo indicam que a taxa que indica a proporção entre gêneros começou a ultrapassar a média global nos anos 1980 e vem crescendo constantemente desde então, passando de 109 homens nascidos para cada 100 mulheres em 1982 para 118 em 2010”, diz o documento do Unicef.

Especialistas atribuem esse desequilíbrio ao aborto e ao abandono de meninas por um período longo de tempo.

A década de 1980 é, justamente, a que viu ser estabelecida, na China, a política de filho único, em que a regra geral é permitir apenas um filho por casal. Exceções permitem mais de um filho, por exemplo, a depender do local de moradia da família (se na área rural ou urbana) e do número de irmãos dos pais da criança.

Na semana passada, o Partido Comunista Chinês anunciou que iria acabar com essa tão controversa política, autorizando dois filhos por casal como regra geral.

Há quem atribua esse desequilíbrio demográfico, pelo menos em parte, à política de filho único, que teria radicalizado a preferência já existente dos chineses por filhos homens. Existem várias teorias a respeito dessa preferência histórica: é o filho homem quem carrega o sobrenome da família; as mulheres tradicionalmente se afastavam de suas famílias, migrando para a do marido; famílias do campo preferem meninos para ajudar na lavoura; e os pais dependem dos filhos para sua aposentadoria.

Mesmo com a mudança na política de natalidade, anunciada há alguns dias, essa disparidade promete ser um grande tormento para o país. Além de questões econômicas, haverá um exército de homens em idade de se casar sem que haja candidatas em número suficiente.

Frente a essa questão, um professor chinês de economia provocou polêmica, no final do mês passado, ao sugerir o casamento entre dois homens e uma mulher. Segundo um post do blog “Sinosphere”, do “New York Times”, o professor explica que a abordagem é puramente econômica, o que não foi suficiente para evitar uma onda de críticas pela proposta ousada.

]]>
0
Diário – 12 horas num trem chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/23/diario-12-horas-num-trem-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/23/diario-12-horas-num-trem-chines/#respond Fri, 23 Oct 2015 12:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=505 Troquei uma viagem de 2h30 de avião por um trajeto de 12h02 de trem entre Shenzhen (a fronteira chinesa com Hong Kong) e Xangai.

Das 10h45 às 22h47 de ontem, parei em 27 cidades antes de chegar a Xangai, num trem que andava a pouco mais de 200km/h (os trens mais rápidos por aqui circulam a cerca de 300km/h, mas não havia a opção nesse trecho).

Viajar de trem é uma autêntica experiência chinesa. No meu vagão, por exemplo, eu era a única estrangeira. Em toda a viagem, só vi mais dois gringos.

Digo autêntica porque é possível ver os chineses relaxados, comendo (muito), vendo vídeos, mexendo no celular, conversando, dormindo, brigando, chorando, roncando… ou seja, é uma oportunidade para bisbilhotar a cultura por muitas horas e de muito perto.

Em resumo, a viagem:

10h45 – A entrada no trem é uma confusão, com todo mundo querendo guardar as malas ao mesmo tempo e com pouco espaço para as bagagens grandes. Como sempre, o trem sai pontualmente. Pouco depois, uma funcionária passa vendendo potes pequenos de Häagen-Dazs.

Vista do trem na província de Guangdong mostra uma passageira olhando para o mar
Vista do trem na província de Guangdong (Johanna Nublat/ outubro de 2015)

11h45 – De repente, o trem se aproxima do mar, numa vista inesperada –sobretudo para quem está desacostumado de ver céu azul e dias bonitos. Morros de um lado, casas pequenas e tanques (de peixes?) de outro. A funcionária passa vendendo marmitas para o almoço. Quem não está dormindo está grudado no celular.

12h58 – O trem deixa para trás cidades pequenas e entra em uma cidade grande, com porto. A funcionária passa recolhendo o lixo do almoço num saco de lixo. Alguém ronca alto.

13h53 – Parados em uma estação. Mesmo em cidades modestas, as estações chinesas costumam ser grandes, de pedra (mármore/granito) e imponentes no seu estilo comunista. Para alegria de todos, desce o passageiro que roncava alto. A essa altura, respirar dentro do banheiro é para os fortes.

14h44 – Todos estão acordados e lanchando (pães e frutas). Já tem gente de pé no fundo dos vagões, esticando as pernas e carregando os celulares na porta do banheiro. A vendedora de sorvetes passa de novo, seguida por uma funcionária que varre o chão. O trem passa por mais uma cidade grande e por uma espécie de parque com castelos.

15h49 – Estamos em uma cidade de médio porte, plana. Parte das casas tem telhado tradicional, pontudos. A outra parte não é bonita. Vemos tudo sob uma luz do sol amarelada (já escurece cedo nessa parte da China). Os passageiros conversam, passa um carrinho vendendo bebidas.

16h38 – O trem passa por uma paisagem frequente no país: dezenas de prédios residenciais altos em construção. Nesse caso, conto mais de 30 gruas trabalhando em um aglomerado de edifícios quase prontos. Ao lado, mais de 40 outros iguais já estão terminados.

17h40 – Já é noite fora do trem; dentro temos aquela luz branca desagradável. Todos estão cansados, e o trem está quieto.

18h25 – Parados em Wenzhou, temos a maior renovação de passageiros durante a viagem. Eles entram “frescos”, enquanto os passageiros originais não querem pensar que ainda faltam mais de 4 horas até o fim da viagem.

19h25 – A funcionária passa vendendo pipoca de microondas já estourada. Não parece fazer muito sucesso. O cup noodles e as garrafinhas de chá são mais populares.

22h47 – Finalmente, chegamos. O trem está só 60% cheio. Talvez pelo cansaço geral, ninguém sai correndo de forma afobada, como costuma acontecer aqui no fim de viagens de trem ou avião.

]]>
0
Quando tudo o que se quer é um céu azul http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/quando-tudo-o-que-se-quer-e-um-ceu-azul/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/quando-tudo-o-que-se-quer-e-um-ceu-azul/#respond Sun, 18 Oct 2015 11:00:10 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=503 Viver em Pequim é ver seu humor variar a depender da cor e da visibilidade do céu.

Este sábado (17), por exemplo, era o dia para não sair da cama: a cidade acordou em meio a uma espessa névoa, e as medições indicavam nível “perigoso” para a saúde por conta da concentração de partículas finas no ar.

E o final de semana começou mal não apenas para a capital. Quem cruzou o país num trem ontem, de Norte a Sul, viu que o céu só voltou a ser azul após 3h30 de viagem a partir da capital (ou seja, a cerca de 1.000 km de Pequim).

Uma medição divulgada pelo Greenpeace essa semana indicou que quase 80% das 367 cidades cuja qualidade do ar é avaliada na China não cumpriram, este ano, os padrões de pureza estabelecidos pelo próprio país. E, apesar de elas terem registrado queda média de 12,1% na presença das partículas finas, o atual cenário ainda é muitas vezes pior do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Entre as províncias, Pequim foi a segunda pior colocada em termos de concentração média das impurezas, atrás apenas de Henan.

Há, no entanto, lufadas de ar fresco de tempos em tempos.

Para garantir um bom cenário para a parada militar de 3 de setembro em Pequim, por exemplo, o governo fechou fábricas, parou obras e tirou carros de circulação. Conseguiu duas semanas de céu azul e ar fresco, levantando o debate sobre como, a que preço e quando será possível ter a boa qualidade do ar permanentemente.

]]>
0