China in TownChina in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Até logo, Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/14/ate-logo-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/14/ate-logo-pequim/#respond Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=573 Outro dia, em um restaurante de Pequim, me perguntaram se eu queria beber água fria ou quente.

“Quente”, respondi feliz, pensando na sensação aconchegante de receber um copo de água quente em um dia tão frio.

Há pouco mais de um ano, quando me mudei para a China, o hábito chinês de tomar água quente durante as refeições me soava absolutamente esquisito. E perigoso, já que a água servida nos restaurantes vem no copo –ou seja, sabe-se lá de onde aquela água sai.

Comer de “kuaizi” (os dois palitinhos) ou de talher se tornou indiferente ao longo desse tempo; na maior parte das vezes, não me dou conta se estou usando um ou outro. Os pratos pedidos nunca chegam juntos numa mesa de restaurante, já nem espero para começar a comer.

Nesse tempo, aprendi a enfrentar o trânsito caótico de Pequim: primeiro como pedestre, depois como motorista e, por fim, ciclista. Ainda não consigo dizer qual é a forma menos agressiva (a mais estressante, certamente, é atrás do volante).

Viajar se tornou um prazer nos confortáveis trens chineses. Em trem rápido ou local, já cruzei esse país de Norte a Sul seis vezes. Em todas elas, carreguei minha lancheira para as longas horas da viagem, como sempre fazem os chineses.

Tive o susto inicial de não encontrar nada barato para comprar (não é tudo feito aqui?), para depois descobrir o que é barato e onde encontrar as pechinchas. Ah, sim, sempre barganhando, algo que exige uma paciência infinita.

No primeiro semestre, fiquei doente todos os meses. Depois aprendi onde comer e/ou me acostumei com os germes locais (talvez seja a tal da água quente?!).

As três grandes dificuldades da temporada, que se encerra agora: 1) A poluição que, de tempos em tempos, avança sobre Pequim e deixa todos deprimidos; 2) A língua, que exige muita dedicação para ser aprendida (e, sem ela, a vida se torna bem complicada); 3) A distância do Brasil, física e “psicológica”, digamos.

Os chineses com quem convivi foram calorosos, curiosos e relaxados, o que me faz pensar que são bem parecidos conosco brasileiros –sem falar no amor pelo futebol e por nossos jogadores. Por outro lado, alguns hábitos e a dificuldade da língua podem fazer alguém pensar que pousou em outro planeta.

Deixo Pequim no final desta semana, e a China segue sendo um mistério para mim.

Obrigada pela leitura!

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Como a poluição rouba a beleza de Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/#respond Thu, 07 Jan 2016 11:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=569 No domingo (3), pousei em Pequim depois de alguns dias fora do país. Deixando para trás o céu azul e sem nuvens em que voou durante todo o caminho, o avião se aproximou da capital chinesa entrando em uma neblina marrom: voltei para casa num dia bastante poluído.

Me mudei para Pequim há pouco mais de um ano. E, ainda hoje, ter que lidar diariamente com a poluição é algo que surpreende.

Usar máscaras quando sair à rua em dias de maior concentração de partículas ruins no ar, deixar as janelas de casa constantemente fechadas, ter dois purificadores de ar ligados 24 horas por dia dentro de casa, pensar duas vezes antes de sair para passear em dias poluídos, ficar feliz com dias de céu azul e ar fresco, achar estranho quando é possível ver nitidamente o contorno dos prédios. Ou ainda moderar seu humor a depender “da cor” do dia.

Tudo isso integra um mundo novo, incrivelmente distante do cotidiano de alguém que cresceu em Brasília. E, infelizmente, tão frequente em várias cidades do Norte da China.

Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, a concentração média de partículas PM2.5 (aquelas bem pequenas, que entram nos pulmões e potencialmente provocam danos) em Pequim, no ano de 2015, foi mais que o dobro da meta nacional.

O ar da capital só atingiu a meta estabelecida pela China em 186 dias no ano passado. Apesar desses dados negativos, a qualidade do ar melhorou levemente se comparada com o ano de 2014, continua a Xinhua, com 6,2% de redução na concentração de PM2.5.

A poluição do ar é um tema sensível para chineses e para os estrangeiros que moram nos locais mais afetados. Durante picos de poluição, é comum ver pessoas reclamando de dor de cabeça, irritação na garganta e olhos. E ouvir gente conversando sobre a possibilidade de deixar Pequim em busca de melhores ares.

Pequim é uma grande cidade, capaz de oferecer cultura, diversão, bons restaurantes e vida confortável. É uma pena que, em quase metade dos dias, toda essa beleza acabe “nublada” pelo ar ruim.

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As escravas sexuais da China e de Taiwan http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/30/as-escravas-sexuais-da-china-e-de-taiwan/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/30/as-escravas-sexuais-da-china-e-de-taiwan/#respond Wed, 30 Dec 2015 13:58:46 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=566 Japão e Coreia do Sul anunciaram, essa semana, ter resolvido “de vez” um longo conflito a respeito das chamadas “mulheres de conforto”, mulheres recrutadas ou sequestradas para trabalharem em bordéis usados por militares japoneses até a década de 40.

Segundo o acordo, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, vai pedir desculpas às mulheres sul coreanas escravizadas para fins sexuais, e o Japão vai doar cerca de R$ 33 milhões a um fundo destinado a dar apoio às vítimas. A negociação também sela esta solução como final e irreversível sobre o tema, e determina o fim das discussões públicas.

O acordo foi criticado por sobreviventes na Coreia do Sul, que reclamaram da ausência de responsabilização legal dos japoneses e de terem sido excluídas das negociações. Já chineses e taiwaneses reclamaram de terem sido deixados de fora do acordo.

Estima-se que 200 mil mulheres tenham sido escravizadas para fins sexuais pelos japoneses, incluindo as sul coreanas, chinesas e taiwanesas. Poucas delas ainda estão vivas.

Segundo reportou a “BBC”, o governo de Taiwan afirmou que quer “negociações imediatas” com o Japão sobre o tema. Os chineses, por outro lado, lembraram que o recrutamento das escravas sexuais foi um “sério crime contra a humanidade” cometido pelo Japão.

Em um artigo de opinião publicado nesta quarta-feira (30), o “China Daily” afirma que as desculpas são bem-vindas, mas não são suficientes. “Dado que o acordo japonês com a Coreia do Sul é, principalmente, politicamente orientado, ao invés de ser uma reflexão verdadeira sobre suas responsabilidades, o movimento não é o suficiente para significar que o Japão está pronto para reconhecer verdadeiramente seu passado.”

 

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O fetiche chinês pelos pés http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/o-fetiche-chines-pelos-pes/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/o-fetiche-chines-pelos-pes/#respond Mon, 21 Dec 2015 13:33:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=563 Até o início do século passado, os homens chineses tinham atração por pés pequenos. Mas muito pequenos: de até dez centímetros.

Eram os “lírios dourados de oito centímetros” ou “pés de lotus”, conseguidos por meio de uma prática milenar e dolorosa em que os ossos dos pés de meninas bem pequenas (dois anos de idade por exemplo) eram quebrados. Os pés eram, então, enfaixados de forma bem apertada e colocados em sapatinhos coloridos e bordados.

Para a vida toda, essas meninas e mulheres caminhariam sem estabilidade e com dor, teriam que trocar as faixas e retirar partes de carne morta dos pés.

“Não apenas se considerava erótica a visão de uma mulher cambaleando sobre pés minúsculos, mas os homens se excitavam com eles, sempre ocultos sob sapatos de seda bordada. As mulheres não podiam retirar as faixam nem quando já estavam adultas, pois os pés recomeçariam a crescer. A faixa só podia ser afrouxada temporariamente à noite na cama, quando elas calçavam sapatos de sola mole. Os homens raramente viam nus os pés enfaixados, em geral cobertos de carne podre e malcheirosos quando se retiravam as faixas”, conta a autora Jung Chang, no livro “Cisnes Selvagens”.

Até a segunda década do século passado, quando a prática foi proibida na China, mulheres de “pés grandes” poderiam ter grande dificuldade para se casarem, o que fazia com que mães e avós obrigassem as meninas a enfrentar tamanho sofrimento.

O que parece tão ultrapassado incrivelmente ainda está vivo nas cidades chinesas. Em um trabalho recente, a fotógrafa inglesa Jo Farrell documentou algumas dezenas de sobreviventes dos pés enfaixados que moram no país –muitas vezes, presas em casa pela idade e pela dificuldade extra de locomoção.

Algumas das fotos da inglesa, impressionantes, podem ser vistas nessa matéria do “The Guardian”.

Um estudo publicado em 1997 no “American Journal of Public Health” avaliou os pés de 193 mulheres com 70 anos ou mais que moravam nos distritos centrais de Pequim. Do grupo de mulheres com 80 anos ou mais, 38% tinham os pés enfaixados; entre as com idades entre 70 e 79 anos, o percentual caía para 18%; e 33 das 193 mulheres tiveram os pés enfaixados quando crianças, mas eles foram liberados das faixas ainda cedo na vida delas.

Um vídeo curtinho no site do “The Telegraph” mostra uma senhora de 95 anos, em Pequim, cambaleando sobre seus pés pequenos e contando diretamente sua experiência.

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Diário de viagem – o caviar chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/12/diario-de-viagem-o-caviar-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/12/diario-de-viagem-o-caviar-chines/#respond Sat, 12 Dec 2015 12:00:35 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=554 A terceira parte da viagem pela China em busca dos ingredientes mais desejados da culinária internacional me levou ao lago Qiandao, cerca de duas horas e meia de carro de Hangzhou (Leste chinês).

No meio do “lago das mil ilhas”, envolto pela natureza mais exuberante que já vi na China, a empresa Kaluga Queen cultiva esturjões para a produção de caviar.

Esturjão cultivado em uma fazenda no lago Qiandao
Fazenda de esturjões no lago Qiandao, Leste da China (Edmond Ho/ divulgação)

Nessa fazenda, a Kaluga tem 5 mil toneladas de peixes, de diferentes espécies, com idades entre seis meses e 11 anos. Os peixes são levados ainda vivos para a região de Quzhou, onde fica a fábrica que processa e empacota o caviar. O processo de abrir a barriga do peixe para retirar as ovas, fazer a limpeza, adicionar sal e acomodá-las na embalagem leva 15 minutos.

A Kaluga começou a colocar o produto no mercado em 2006. Hoje detém 80% da produção de caviar da China, oferecendo cerca de 45 toneladas por ano de diferentes variedades. Metade da produção é de um caviar que chamam de híbrido (do cruzamento dos esturjões kaluga e amur) e que, segundo a empresa, vem de um peixe que só é cultivado na China.

Apesar da forte produção nacional, somente 5% do caviar Kaluga fica no mercado doméstico. Pode ser encontrado, por exemplo, no restaurante Opera Bombana, em Pequim, do premiado chef italiano Umberto Bombana. Ainda na capital chinesa, o caviar da Kaluga está no menu do restaurante Dadong, de uma rede famosa por servir o tradicional pato de Pequim. O hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai também serve as ovas nacionais.

Terrence Crandall, chef executivo dos restaurantes do Peninsula, diz que optou pelo caviar chinês desde a abertura do hotel, em 2009. “No início, eu queria o caviar iraniano. Mas estava lidando com um fornecedor suíço, que também exporta o Kaluga. Testamos o caviar nacional e ele era muito bom.”

No jantar de abertura do Peninsula, foram servidos 75 kg de caviar. Nenhum tipo de caviar vendido pela Kaluga sai por menos de R$ 3.800 o quilo, sendo que o mais caro (o beluga) custa mais de US$ 25 mil o quilo.

Han Lei, vice-presidente para o mercado internacional da Kaluga, conta que teve que superar o preconceito que ronda todos os produtos chineses. “No começo, as pessoas não acreditavam que a China poderia produzir bom caviar. A Lufthansa, por exemplo, fez um teste às cegas e duas variedades do nosso caviar ganharam primeiro e segundo lugares. Aí eles começaram um negócio conosco.”

Crandall, o chef, me disse que o público chinês tem dado mais valor aos produtos nacionais por perceber que podem ter boa qualidade. E que o chinês gosta de ver itens de luxo na mesa, assim como gosta de grandes marcas de carros e roupas. “Trufas e caviar não eram consumidos na China. Como Ferrari e outras marcas, eles gostam de ver isso no menu.”

Essa viagem que me levou a três pontos do país em busca do caviar, trufas e vinho nacionais foi um convite do hotel Península Shanghai, que também me cedeu as fotos do fotógrafo Edmond Ho, do estúdio Jambu, de Cingapura.

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O “airpocalipse” chegou a Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/#respond Tue, 01 Dec 2015 10:00:08 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=547 Acordei esta manhã, dei alguns passos pela casa estranhamente escura, olhei pela janela e pensei “mas não tinha um prédio ali?”.

Tinha. Quer dizer, ele ainda está lá, mas “escondido” por uma neblina espessa e marrom. Segundo medições feitas pela embaixada americana em Pequim, o ar da capital chinesa está “mais que perigoso” desde ontem.

O “China Daily” informou que essa é a pior onda de poluição na capital, este ano.

Esta era a vista da minha janela na manhã desta terça (1º):

Vista da janela mostra densa neblina marrom impedindo a visualização dos prédios
Vista da janela no bairro de Chaoyang, Pequim, por volta das 7h de terça-feira (1º) (Johanna Nublat/ dezembro 2015)

Aqui a vista da mesma janela, num dia de ar limpo na semana passada:

Vista da mesma janela, na semana passada, mostra céu azul e diversos prédios
Vista da mesma janela, na semana passada (Johanna Nublat/ novembro de 2015)

Enquanto o mundo olha para Paris e para a COP21, por muitas horas entre segunda-feira (30) e terça (1º), Pequim registrou um AQI (índice da qualidade do ar) péssimo, superando 500, marca até onde a poluição costuma ser medida e divulgada pelo Twitter da embaixada americana. Às 21h de ontem, o índice alcançou 609.

Pela conta na rede social, a embaixada divulga, hora a hora, a concentração de PM 2.5 (partículas no ar pequenas o bastante para chegar aos pulmões e provocar danos) e o índice correspondente a essa concentração.

O ar é considerado bom com um AQI até 50; moderado de 51 a 100; ruim para a saúde para grupos sensíveis de 101 a 150; ruim para a saúde de 151 a 200; muito ruim para a saúde de 201 a 300; e perigoso de 301 a 500 –em todos esses casos quando considerada uma exposição de 24 horas sob tal concentração de partículas.

Quando o ar está “perigoso”, a sugestão é evitar todas as atividades ao ar livre.

E quando está mais que perigoso, o que fazer?

Ontem, quando a densa névoa já tomava conta da cidade, eu vi uma proporção maior de pessoas cobrindo o rosto com máscaras ou cachecóis, pessoas comprando máscaras e muita gente impressionada. Mesmo para os padrões poluídos da capital, a atual onda marrom choca.

De acordo com matéria do “China Daily” de hoje, a cidade de Pequim ordenou que 2.100 empresas do ramo das indústrias mais poluentes suspendessem seus trabalhos e que todas as obras fossem interrompidas.

Incrivelmente, ainda há quem se inspire entre tanta fumaça. O site Shanghaiist fez uma matéria sobre um artista chinês que passou 100 dias sugando o ar de Pequim com um aspirador de pó. Depois transformou toda a sujeira em um tijolo.

A previsão é que, a partir desta quarta (2), uma corrente de ar frio vinda do Oeste leve daqui a densa névoa. Até lá, boa parte dos habitantes de Pequim vai ficar em casa, trocar os filtros de seus purificadores de ar e olhar pela janela esperando novos ares.

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Diário de viagem – o novo vinho chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/30/diario-de-viagem-o-novo-vinho-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/30/diario-de-viagem-o-novo-vinho-chines/#respond Mon, 30 Nov 2015 12:00:37 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=542 No início de novembro, eu embarquei em uma inusitada viagem por três regiões da China, em busca de alguns ingredientes de destaque na gastronomia internacional: a trufa, o vinho e o caviar. No caso, todos “made in China”.

Num post anterior, falei sobre a primeira perna dessa aventura, a ida à província de Yunnan, em busca das trufas. O relato completo foi publicado pela Folha, na semana passada.

Nosso destino seguinte era o Norte do país, na região autônoma de Ningxia, de onde andam saindo os vinhos mais premiados da China –vieram dessa região 36 das 43 medalhas concedidas à China no prêmio Decanter Asia Wine Awards 2015.

Com a proximidade do inverno, os vinhedos temporariamente são enterrados no Norte da China
Com a proximidade do inverno, as videiras são temporariamente enterradas no Norte da China (Edmond Ho/ divulgação)

Deixamos a agradável Kunming (capital de Yunnan), no sudoeste chinês, para chegar numa fria e nublada Yinchuan (capital de Ningxia). A temperatura no Norte cai tanto durante o inverno, que as videiras precisam ser enterradas até que as temperaturas voltem a subir na primavera.

Yinchuan é uma cidade de avenidas largas, prédios novos imponentes e alguns bons hotéis. Um dos planos do governo local, desenvolvido nas últimas duas décadas, é aproveitar as terras para a produção de vinho.

Segundo me disse Hai Liu, proprietário da vinícola Legacy Peak, 74 empreendimentos já têm registro para produzir vinho na região, e outros 40 já estão em construção.

Os vinhos de Liu chegaram ao mercado, pela primeira vez, no ano passado. Hoje eles produzem três rótulos: um chardonnay, um cabernet sauvignon e um cabernet sauvignon com merlot. Em 2014, produziram 30 mil garrafas, mas pretendem dobrar a quantidade com o que estão fabricando este ano.

A família de Liu foi uma das pioneiras na plantação de cabernet na região, há 18 anos, com incentivo do governo e uvas importadas da França. Só em 2010, no entanto, ele resolveu parar de vender as uvas e começar a produzir seu próprio vinho.

Liu se aliou ao francês Edouard Duval, que tem uma importadora de vinhos em Xangai e é da família que produz o champanhe Duval-Leroy na França. Duval ajudou com o blend, os belos rótulos do vinho e é quem controla as vendas na China e, a partir desse ano, a exportação do Legacy Peak para Hong Kong e Europa.

Duval conta que a produção nacional de vinhos é majoritariamente focada no mercado doméstico, “que ainda quer as grandes marcas”. “É um desafio [atrair o chinês para o vinho nacional], é preciso convencer que agora há vinhos de boa qualidade.”

“O mercado na China só começou. Queremos orientar o consumidor chinês para o bom vinho”, concorda Emma Gao, proprietária da vinícola Silver Heights, uma das primeiras a chamar atenção para a região de Ningxia.

Antes de Liu ou Gao, no entanto, a região ganhou destaque na produção de vinhos em 2011, quando a vinícola Helan Qingxue alcançou o prêmio mais alto da Decanter, algo inédito para o país, com o vinho Jiabeilan Grand Reserve 2009. Foi quando Ningxia apareceu aos olhos do mundo.

Apesar desse crescente reconhecimento, realmente os vinhos chineses ainda são marginalizados nos cardápios dos restaurantes por aqui. Uma vez, quando perguntei pelo vinho nacional em um bom restaurante italiano em Pequim, ouvi como resposta que “ali, só havia vinhos bons”.

Outro porém a ser resolvido é o preço; o vinho chinês ainda é caro em comparação com os importados, explica Jean-Claude Terdjemane, sommelier do hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai. O hotel foi o primeiro estabelecimento de destaque a incluir o Legacy Peak em sua carta de vinhos –lá, o cabernet com merlot é vendido pela taça a cerca de R$ 116.

Terdjemane me disse que é prioridade para o hotel servir bons vinhos chineses, que são bem recebidos principalmente pelos clientes estrangeiros. Ele ressalva, no entanto, que é preciso saber triar bons de ruins. “Parece ‘o Eldorado’: quando algo vai bem na China, todo mundo quer fazer.”

Senti muita falta, em Yinchuan, de uma estrutura das vinícolas para receber os turistas, sobretudo os estrangeiros. Seria uma grande viagem descer na cidade para fazer o tour dos vinhedos, comer o excelente carneiro da região –que tem importante população de muçulmanos chineses– e aproveitar a bela vista das montanhas Helan.

Liu, da vinícola Legacy Peak, me disse que poucos empreendimentos estão abertos para o turista –e eu diria que, para o estrangeiro que não fala chinês, a viagem é uma empreitada mais que difícil. Quem sabe para o futuro?

A imagem que uso nesse post é do fotógrafo Edmond Ho, do Jambu Studio, em Cingapura. Foi cedida via o hotel Peninsula Shanghai, que me convidou para a viagem.

 

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Diário de viagem – trufas na China http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/diario-de-viagem-trufas-na-china/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/26/diario-de-viagem-trufas-na-china/#respond Thu, 26 Nov 2015 10:29:32 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=535 Eu pousei em Kunming, capital da província de Yunnan, em uma segunda-feira no início de novembro.

Era minha primeira viagem à “cidade da eterna primavera”, no sudoeste chinês, terra de uma gastronomia particular e bastante famosa no país: comida apimentada, com uma enorme variedade de cogumelos e pratos mais leves e coloridos –o que a diferencia muito da pesada culinária de Pequim, por exemplo.

Ali meu objetivo era um tanto inusitado: procurar trufas.

A caçada às trufas fez parte de uma viagem mais ampla, que me levou a três regiões do país em busca dos ingredientes mais desejados da gastronomia internacional: trufas, vinho e caviar. No caso, todos “made in China”.

A Folha publicou, nesta quinta-feira (26), duas matérias sobre a rica empreitada, uma sobre os ingredientes e outra sobre a viagem em si.

Até semanas atrás, eu desconhecia as trufas chinesas. Não é um ingrediente que costuma estar presente no cardápio nacional e nem algo com que se esbarre com frequência nos supermercados.

Segundo me disse Serko Wang, um chinês de Xangai que comercializa as trufas de Kunming, o mercado doméstico para as trufas está crescendo, mas a maior parte das vendas dos últimos anos teve foco na exportação (no caso dele, para Alemanha, Espanha e França) e nos restaurantes ocidentais.

“A tradição chinesa não conhece a trufa, usa para dar para os porcos. Estamos tentando desenvolver receitas para nossos clientes chineses. Agora descobriram o tesouro e o negócio está feito”, diz ele.

Quem procurar sobre as trufas chinesas na internet vai encontrar muitos europeus bravos com elas. Muitos denunciam que o ingrediente chinês, mais barato, tem menor sabor e perfume e é indevidamente misturado às preciosas trufas francesas e italianas.

Acompanhei alguns agricultores na caça às trufas em uma mata de um pequeno vilarejo de Yuxi, cidade colada a Kunming. Wang explica que a trufa ali é selvagem, a Tuber indica. Um quilo do alimento é vendido a mais de R$ 1.000 no varejo.

A melhor época para retirar as trufas da terra, em Yuxi, é entre janeiro e fevereiro. Antes disso, o risco é colher um ingrediente insosso –a que eu provei lá, retirada da terra em novembro, deixaria os franceses e italianos bravos com razão.

Trufas colhidas em Yuxi, cidade próxima a Kunming
Trufas de um vilarejo da cidade de Yuxi, próxima a Kunming (Edmond Ho/ divulgação)

Wang conta que a terra que visitamos é livre para que qualquer pessoa procure pelas trufas, o que faz com que elas sejam recolhidas pelo primeiro que aparece e não dá o tempo adequado para o amadurecimento.

Terrence Crandall, chef executivo dos restaurantes do hotel cinco estrelas Peninsula Shanghai, diz que começou a usar as trufas de Yunnan há cerca de um ano, inicialmente pela dificuldade de importação do ingrediente europeu. Apesar da pressa na caçada, quando retiradas da terra no momento certo, continua o chef americano, elas são, sim, saborosas.

“A qualidade está melhorando, estão aprendendo a época certa de colher. O desafio parece ser esse”, diz ele.

Mata de vilarejo em Yuxi, cidade próxima a Kunming, onde podem ser encontradas trufas
Mata de vilarejo em Yuxi, cidade próxima a Kunming, onde podem ser encontradas trufas (Johanna Nublat)

Em Yuxi, caçar trufas é uma atividade econômica complementar e fica concentrada a uma época do ano apenas. A maior parte da renda dos agricultores vem mesmo do que eles plantam na terra, como legumes e frutas, e dos famosos cogumelos de Yunnan.

Visitamos a casa de Mao Xinping, 44, que tinha guardadas na geladeira algumas cestas de trufas encontradas nos dois dias anteriores a nossa visita. Perguntei se a família comia as trufas e como comia. Ele disse que, sim, comem quando têm vontade, e que cortam em fatias e refogam com pimenta chili.

Trufas de Yunnan podem custar mais de R$ 1.000 o quilo no varejo
Trufas de Yunnan podem custar mais de R$ 1.000 o quilo no varejo (Edmond Ho/ divulgação)

O chef Terrence, do Peninsula, nos serviu um jantar ao final de uma semana de viagem, quando voltamos a Xangai, ponto de partida e de chegada dessa inusitada exploração gastronômica.

A trufa de Yunnan foi uma bela surpresa na sobremesa do jantar: um sorvete de avelã e trufa, com espuma de chocolate e um toque de cacau. Aquela trufa, madura, tinha sabor.

Trufas de lado, a viagem também foi uma bela oportunidade para conhecer a enorme variedade de cogumelos da região, servidos refogados com carnes e legumes ou em sopas. Me marcou, em especial, uma sopa de cogumelos com caldo de frango, servida dentro de um bule.

Nos próximos dias, vou contar aqui no blog sobre os outros trechos dessa viagem, que me levou à nova região produtora de vinhos da China (Ningxia, ao Norte do país) e atrás do caviar nacional.

Duas das fotos usadas nesse post foram cedidas pelo fotógrafo Edmond Ho, via o hotel Peninsula Shanghai (que me fez o convite para toda essa viagem). Edmond é um fotógrafo baseado em Cingapura,  do Jambu Studio.

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Pequim às voltas com a lei antifumo http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/25/pequim-as-voltas-com-a-lei-antifumo/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/25/pequim-as-voltas-com-a-lei-antifumo/#respond Wed, 25 Nov 2015 10:42:36 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=533 Na última segunda-feira (23), levei alguns minutos para entender que, sim, alguém fumava no interior de um pequeno restaurante no bairro mais internacional de Pequim, Sanlitun.

Há quase seis meses, está em vigor na capital chinesa uma lei antifumo que proíbe fumar em ambientes fechados de acesso ao público. A regra é considerada muito boa pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que vê no sucesso da lei de Pequim a chance de expandir o veto ao fumo para todo o país.

A estimativa é que 301 milhões de pessoas fumem na China –um Brasil e meio de fumantes–, cerca de 28,1% dos adultos.  No Brasil, como comparação, a taxa de fumantes está estimada, hoje, em 10,8%.

A maior parte dos fumantes chineses é homem (52,9% dos homens adultos fumam), enquanto só 2,4% da população adulta feminina fuma.

Logo no início da vigência da lei, a cidade parecia ter se adaptado. Os principais restaurantes e bares da cidade tinham afixado placas informando sobre a proibição e banido a fumaça de seu interior.

Mas… o inverno está chegando, com temperaturas que já caem a -8ºC. E a batalha parece ter ficado mais complicada.

Nesta quarta (25), o braço da OMS na China soltou uma nota alertando para a necessidade de manter firme o combate ao fumo nos próximos meses.

“Informações novas indicam que, em outubro, 4.000 estabelecimentos de Pequim foram inspecionados, com violações em mais de 350 deles”, diz a OMS. “No entanto, as últimas informações disponíveis também mostram que as ligações para a hotline 12320 [que recebe denúncias de fumo em locais proibidos] tiveram um pico nos dois primeiros meses de vigência da lei [junho e julho], levando a OMS a reiterar a importância de um esforço continuado na aplicação da lei.”

No restaurante de Sanlitun, na segunda-feira, nem os clientes nem os garçons pareciam incomodados com a chinesa que fumava sem sobressaltos no ambiente totalmente fechado. E o inverno ainda nem chegou.

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A volta das bicicletas em Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/#respond Wed, 18 Nov 2015 12:00:33 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=530 Na semana passada, o jornal “The New York Times” escreveu sobre os planos da cidade de Pequim para ampliar o uso de bicicletas como meio de transporte, opção que vem sendo cada vez menos usada pelos chineses da capital.

Segundo a matéria do jornal, apenas 12% dos residentes de Pequim usam bicicletas como meio de transporte hoje em dia, em comparação com 38% no ano 2000. E a meta, diz o texto, seria expandir o percentual para 18% até 2020.

Parece, no entanto, que não se trata de uma tarefa simples, mesmo num país famoso pela gigantesca quantidade de bicicletas. Em 2010, um jornal local informou que uma tentativa semelhante estava em curso em Pequim: naquele ano, 19,7% usavam bicicletas como meio de transporte, e a meta era expandir para 23% em 2015.

Por que não deu certo? E quais são as dificuldades do ciclista em Pequim?

A princípio, uma boa parte das ruas e avenidas tem uma faixa destinada a veículos não motorizados –o que inclui bicicletas, motos elétricas, tuc-tucs, patinetes elétricos e até cadeiras de roda motorizadas.

Mesmo assim, há dificuldades, como: 1) os vários carros estacionados nesses locais, por falta de vagas para carros em número suficiente na cidade; 2) alguns trechos sem a faixa específica; 3) o fato de bicicletas, motinhos e pedestres trafegarem nos dois sentidos nessas faixas, o que transforma esse espaço num verdadeiro caos.

Já ouvi de várias pessoas que o plano e andar de bicicleta em Pequim foi descartado por ser “perigoso”.

Outras dificuldades são o tamanho da capital, o que só permite o uso da bicicleta para trechos relativamente curtos, a frequência dos altos índices de poluição e o frio pesado durante o inverno.

Por outro lado e apesar desses entraves, usar a bicicleta pode ser a salvação nesta cidade de trânsito enlouquecedor. Pode, por exemplo, nos levar em 20 minutos de um ponto a outro num trajeto que, nos horários de engarrafamento, levaríamos até uma hora de carro.

No livro “Red China Blues”, a jornalista Jan Wong conta que, em 1981, só 20 residentes de Pequim tinham um carro particular. Hoje, menos de 35 anos depois, a cidade tenta lidar com uma frota de 5 milhões de veículos, engarrafamentos constantes e um alto –e criticado– nível de poluição. Será que voltam as bicicletas?

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