China in Townhutong – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como viver em uma casa de 300 anos http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/03/13/como-viver-em-uma-casa-de-300-anos/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/03/13/como-viver-em-uma-casa-de-300-anos/#respond Fri, 13 Mar 2015 14:00:26 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=272 Já falei aqui, em outro post, sobre o charme dos hutongs de Pequim, espécie de bairros tradicionais com alamedas apertadas e casinhas semelhantes entre si, construções que podem ter até 300 anos.

De alguns anos para cá, lojas alternativas e moderninhas, restaurantes e bares surgiram em parte desses hutongs, como Nanluoguxian, a região de Gulou e Qianmen, pontos turísticos obrigatórios em Pequim.

Casas restauradas em hutongs também passaram a atrair estrangeiros, que querem viver “uma experiência autêntica” na cidade.

A questão, no entanto, é que a estrutura das casas nos hutongs, de forma geral, é bastante precária: elas não têm bom isolamento térmico, não têm banheiros –há banheiros públicos nas vielas entre as casas, sem chuveiro– e, muitas, não passam por reformas há bastante tempo.

Casas não reformadas dentro de um hutong
Casas não reformadas dentro de um hutong, vista do pátio interno (março/ Johanna Nublat)

E, apesar de existir um movimento a favor dos hutongs, digamos, Pequim perdeu uma boa parte deles nos últimos anos para ceder espaço a novas avenidas e prédios –como já publicou a Folha em uma matéria de 2004.

Alguns grupos têm se debruçado sobre soluções para essa tensão entre o antigo e o novo/prático. Uma delas foi desenvolvida pelo People’s Architecture Office, para a semana de design de Pequim de 2013, e aplicada em uma propriedade na região de Dashilar (a 10 minutos da Praça da Paz Celestial).

Antes de contar sobre o projeto, que se chama Courtyard House Plugin, explico como são essas propriedades. De forma geral, são espaços em que podem viver quatro ou até 12 famílias, em casas térreas reunidas em volta de um pátio comum, tudo cercado e separado da rua por uma porta.

Na propriedade de Dashilar, por exemplo, vivem hoje duas famílias, cada uma ocupando cerca de 25 metros quadrados, sem banheiro e com uma cozinha improvisada –e só uma dessas propriedades vale cerca de R$ 700 mil, segundo a dona.

Atravessando o pequeno pátio interno dessa propriedade, está a área que passou pela intervenção do escritório de arquitetura.

Intervenção em uma casa de hutong, na região central de Pequim
Intervenção em uma casa de hutong, na região central de Pequim (março/ Johanna Nublat)

Como vocês podem ver, a “casca” do hutong foi mantida, com estruturas de madeira e os tijolos. E, dentro, foi construída uma outra casa. Como explica James Shen, do escritório de arquitetura, é uma casa dentro de uma casa.

A ideia é poder instalar banheiros e uma cozinha (se for o caso), melhorar o isolamento térmico e os revestimentos de forma barata e rápida, mas mantendo o que for possível da estrutura que já existe.

Segundo Shen, eles desenvolveram materiais pré-fabricados e tecnologia que permitem “montar” a nova casa com uma só ferramenta e em um dia de trabalho –em comparação com uma reforma padrão que pode levar três meses ou mais. O preço da reforma também cai pela metade, ele diz, saindo por cerca de R$ 1.400 o metro quadrado nesse projeto –preço que, segundo ele, deverá cair com produções em larga escala.

Vista da "casca" do hutong e da estrutura construída dentro dele
Vista da “casca” do hutong e da estrutura construída dentro dele (março/ Johanna Nublat)

Ainda dentro de proposta piloto, custeada pelo governo, o escritório planeja adaptar cinco ou seis outras propriedades até maio. E, possivelmente, mais algumas até a próxima semana de design, em outubro.

Shen explica que a intenção do projeto é reverter a tendência de abandono das propriedades –segundo ele, vários hutongs dessa região estão abandonados e fechados hoje, à espera de algum bom negócio no futuro ou simplesmente pela falta de recursos para investimento em uma reforma adequada.

Será interessante ver o que será feito dos hutongs em algumas décadas. Vamos ver se eles vão se manter como os espaços vivos e cotidianos que são, com vendedores de ovos e verduras na rua, e crianças correndo pelas alamedas; ou se vão virar uma espécie de museu, parcialmente preservados para servir de atração para quem passeia por Pequim.

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Perdidos no bom labirinto http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/13/perdidos-no-bom-labirinto/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/13/perdidos-no-bom-labirinto/#respond Wed, 14 Jan 2015 00:33:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=130 Quem viaja a Pequim tem os hutongs na lista de lugares obrigatórios a visitar. Em outros posts, eu expliquei o hutong como um tipo de “bairro tradicional” da cidade, noção que vou expandir agora.

São vários conjuntos de ruas apertadas e curvas, onde se anda a pé, de bicicleta, moto ou carro (se o carro couber na rua), margeadas por inúmeros siheyuans –pequeno grupo murado de casas que se organizam ao redor de um patio comum.

Andando pelos hutongs você se sente num labirinto –principalmente se você está perdido em um deles, à noite.

Essas imagens ajudam a entender sobre o que estou falando. E essas aqui mostram bem como os hutongs são vivos (e, com frequência, bagunçados).

Essas casas tradicionais foram construídas entre os séculos 13 e 20 –ou seja, algumas têm algo como 700 anos e ainda são usadas. Os hutongs que escaparam da modernização da cidade podem ser vistos em um bom pedaço da área central de Pequim.

Cada siheyuan pode ser habitado por uma só família (uma ou mais gerações da mesma família) ou mais de uma. Os mais antigos e os não reformados não têm banheiros –e, nesse caso, as pessoas usam banheiros públicos instalados ao longo das ruas.

Entrada de um siheyuan (grupo de casas) mostra uma bicicleta encostada e o armazenamento de repolhos, bastante comum no inverno
Entrada de um siheyuan (grupo de casas) mostra o armazenamento de repolhos, bastante comum no inverno (dezembro/ Johanna Nublat)

Em meio a alguns desses “bairros”, há cafés, restaurantes e lojinhas descolados, o que leva uma multidão de chineses e turistas aos hutongs. Parte do charme de passear pelos labirintos é ver, de um lado, um café moderno e, do outro lado da rua, um grupo de senhoras sentadas na porta de casa conversando.

Uma revista de atividades culturais em Pequim reuniu algumas dicas de lugares a visitar em cada hutong, vale a pena dar uma olhada.

E eu tenho, também, algumas sugestões próprias: 1) Mr. Shi’s Dumplings (74 Baochao Hutong), restaurante especializado nos famosos “pasteizinhos” chineses; 2) Barista Coffee (47 Wudaoying Hutong), um café moderninho e minúsculo; 3) Temple (23 SongZhuSi, Shatan Beijie), restaurante de comida contemporânea que tem um bar bacana; 4) as escolas de culinária Hutong Cuisine (35 DengCao Hutong) e The Hutong (1 Jiu Dao Wan Zhong Xiang Hutong); 5) e o Mercante (4 Fangzhuanchang Hutong), restaurante italiano perdido em meios aos labirintos.

Com todo esse charme e tradição, não é incomum que os estrangeiros que vivem em Pequim queiram morar em hutongs renovados. O jornalista e escritor Peter Hessler passou alguns anos na China e, pelo menos parte deles, em um hutong de Pequim. Aqui ele conta a boa experiência que teve; sugiro a leitura e o passeio pelos hutongs.

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