China in Townpena de morte – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A batalha da China pela doação voluntária de órgãos http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/21/a-batalha-da-china-pela-doacao-voluntaria-de-orgaos/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/21/a-batalha-da-china-pela-doacao-voluntaria-de-orgaos/#respond Thu, 21 May 2015 15:20:43 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=373 Após anos de pressão nacional e internacional, no fim de 2014 a China anunciou que deixaria de utilizar órgãos de presos executados nos transplantes realizados no país, medida que entraria em vigor em 1˚ de janeiro deste ano.

À época, o governo chinês já deveria imaginar que “o buraco” deixado por essas doações seria grande.

Como já escrevi aqui anteriormente, um artigo publicado em “The Lancet”, em 2011, estimou que cerca de 60% dos órgãos transplantados na China vinham de pessoas executadas –prática que fazia da China o único país a “usar sistematicamente órgãos de presos executados em transplantes”.

Essa captação de órgãos dos presos era extremamente criticada por associações de médicos e de direitos humanos, que questionavam a forma de autorização para a doação e até a decisão sobre quando executar o prisioneiro.

Pouco mais de cinco meses sob a nova regra que baniu essa polêmica prática, o jornal local “China Daily” descreve uma situação crítica para quem depende de transplantes no país, revelando o grande desafio que a China tem pela frente para alavancar as doações voluntárias.

Em uma matéria publicada na última quarta-feira (20), um cirurgião relata que costumava fazer mais de 200 transplantes de fígado por ano num hospital de Pequim, mas realizou apenas 10 desde o começo do ano.

Segundo o jornal, estima-se que 300 mil pessoas precisem de transplantes a cada ano na China, mas apenas 10 mil cirurgias são realizadas. E, apesar de esforços terem sido feitos pelo governo para ampliar as doações voluntárias das famílias e de esse número ter crescido, ainda é pouco perto da necessidade.

No Brasil, o governo também vem tentando ampliar a doação de órgãos e a eficiência de todo o processo. Entre as medidas anunciadas nos últimos anos, por exemplo, estão acordos com as empresas aéreas para garantir o embarque ágil dos órgãos, e a parceria com o Facebook para que o usuário declare, na rede social, se é ou não doador –o que poderia facilitar a autorização das famílias para uma eventual doação.

Mesmo assim, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), a recusa das famílias brasileiras ainda é grande, chegando a 43% dos casos.

No ano passado, a entidade apoiou uma campanha bem interessante sobre doações, tocando justamente na questão cultural sobre doar ou não –questão que, pelo visto, atravessa o globo.

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Doação de órgão por presos executados pode acabar na China http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/17/doacao-de-orgao-por-presos-executados-pode-acabar-na-china/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/17/doacao-de-orgao-por-presos-executados-pode-acabar-na-china/#respond Sat, 17 Jan 2015 12:03:11 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=143 A notícia recente sobre o cumprimento da pena de morte para um brasileiro preso na Indonésia me fez lembrar de um assunto que apareceu na imprensa chinesa nas últimas semanas: o fim da doação de órgãos por prisioneiros executados na China.

O sistema chinês de transplantes é muito recente. Apenas em 2011, o país adotou uma rede nacional de informações sobre captação e distribuição de órgãos; até então, ficava a critério dos hospitais fazer essa ponte, o que não garantia a entrega do órgão a quem mais precisasse e abria brecha para a venda de órgãos e outras irregularidades.

Além de novo, o sistema ainda é fortemente sustentado pela polêmica doação de órgãos por prisioneiros executados –pela norma, desde que haja consentimento do preso ou da família. De acordo com a Xinhua, agência estatal de notícias, metade dos transplantes de rim realizados em 2009 no país (cerca de 6,7 mil) ocorreu com órgãos que vieram de presos executados.

Na conta geral, segundo um artigo publicado em The Lancet em 2011, quase 60% dos órgãos transplantados na China eram doados por pessoas executadas, o que fazia da China o único país a “usar sistematicamente órgãos de presos executados em transplantes”.

A prática encontrou forte resistência de médicos e grupos de defesa dos direitos humanos ao redor do mundo. O argumento contrário mais forte é o de que o sistema seria antiético, pois os presos poderiam ser coagidos a doar seus órgãos, e as execuções poderiam ser influenciadas pela necessidade das doações.

Em 2006, a Associação Médica Mundial emitiu uma nota criticando a prática na China. Mais ou menos nessa época, integrantes do governo chinês começaram a se pronunciar a favor de uma mudança no sistema, que deveria deixar de se basear na doação de presos executados e migrar para a doação voluntária da população, seguindo critérios objetivos de distribuição, tudo num futuro próximo.

Campanhas de conscientização das famílias de potenciais doadores e a implementação de um sistema nacional já teriam reduzido a participação de órgãos doados por pessoas executadas para cerca de 30% do total, segundo a Xinhua informou em agosto passado.

E um passo significativo estaria sendo dado agora, segundo matéria do China Daily de dezembro: a captação de órgãos passaria a ser baseada apenas em doações voluntárias a partir deste mês, o que deixaria no passado a dependência dos presos executados.

Atravessando o globo, esse sensível assunto também deu o que falar nos Estados Unidos. Em 2011, o New York Times publicou um artigo escrito por um preso condenado à morte pelo assassinato de quatro pessoas. No texto, o preso diz que queria doar seus órgãos após a sentença ser cumprida, faz uma defesa da causa e denuncia que estava sendo impedido pelas autoridades de realizar a doação desejada.

Nesse caso americano, me parece, fica um tanto prejudicado o argumento de que a doação seria antiética e contra a vontade do preso. Ainda assim, o caso gerou forte repercussão nos Estados Unidos.

Por aqui, com ou sem a doação dos presos executados, o governo chinês ainda tem um nó a desatar no sistema: as longas filas para transplantes. Cerca de 10 mil procedimentos são feitos por ano no país, enquanto a fila chega a 300 mil pessoas, diz a Xinhua. A saída parece ser a mesma perseguida por outros países, como o Brasil, com a garantia de confiabilidade do sistema nacional e a sensibilização de potenciais doadores.

 

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