China in TownPequim – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como a poluição rouba a beleza de Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2016/01/07/como-a-poluicao-rouba-a-beleza-de-pequim/#respond Thu, 07 Jan 2016 11:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=569 No domingo (3), pousei em Pequim depois de alguns dias fora do país. Deixando para trás o céu azul e sem nuvens em que voou durante todo o caminho, o avião se aproximou da capital chinesa entrando em uma neblina marrom: voltei para casa num dia bastante poluído.

Me mudei para Pequim há pouco mais de um ano. E, ainda hoje, ter que lidar diariamente com a poluição é algo que surpreende.

Usar máscaras quando sair à rua em dias de maior concentração de partículas ruins no ar, deixar as janelas de casa constantemente fechadas, ter dois purificadores de ar ligados 24 horas por dia dentro de casa, pensar duas vezes antes de sair para passear em dias poluídos, ficar feliz com dias de céu azul e ar fresco, achar estranho quando é possível ver nitidamente o contorno dos prédios. Ou ainda moderar seu humor a depender “da cor” do dia.

Tudo isso integra um mundo novo, incrivelmente distante do cotidiano de alguém que cresceu em Brasília. E, infelizmente, tão frequente em várias cidades do Norte da China.

Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, a concentração média de partículas PM2.5 (aquelas bem pequenas, que entram nos pulmões e potencialmente provocam danos) em Pequim, no ano de 2015, foi mais que o dobro da meta nacional.

O ar da capital só atingiu a meta estabelecida pela China em 186 dias no ano passado. Apesar desses dados negativos, a qualidade do ar melhorou levemente se comparada com o ano de 2014, continua a Xinhua, com 6,2% de redução na concentração de PM2.5.

A poluição do ar é um tema sensível para chineses e para os estrangeiros que moram nos locais mais afetados. Durante picos de poluição, é comum ver pessoas reclamando de dor de cabeça, irritação na garganta e olhos. E ouvir gente conversando sobre a possibilidade de deixar Pequim em busca de melhores ares.

Pequim é uma grande cidade, capaz de oferecer cultura, diversão, bons restaurantes e vida confortável. É uma pena que, em quase metade dos dias, toda essa beleza acabe “nublada” pelo ar ruim.

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O “airpocalipse” chegou a Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/12/01/o-airpocalipse-chegou-a-pequim/#respond Tue, 01 Dec 2015 10:00:08 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=547 Acordei esta manhã, dei alguns passos pela casa estranhamente escura, olhei pela janela e pensei “mas não tinha um prédio ali?”.

Tinha. Quer dizer, ele ainda está lá, mas “escondido” por uma neblina espessa e marrom. Segundo medições feitas pela embaixada americana em Pequim, o ar da capital chinesa está “mais que perigoso” desde ontem.

O “China Daily” informou que essa é a pior onda de poluição na capital, este ano.

Esta era a vista da minha janela na manhã desta terça (1º):

Vista da janela mostra densa neblina marrom impedindo a visualização dos prédios
Vista da janela no bairro de Chaoyang, Pequim, por volta das 7h de terça-feira (1º) (Johanna Nublat/ dezembro 2015)

Aqui a vista da mesma janela, num dia de ar limpo na semana passada:

Vista da mesma janela, na semana passada, mostra céu azul e diversos prédios
Vista da mesma janela, na semana passada (Johanna Nublat/ novembro de 2015)

Enquanto o mundo olha para Paris e para a COP21, por muitas horas entre segunda-feira (30) e terça (1º), Pequim registrou um AQI (índice da qualidade do ar) péssimo, superando 500, marca até onde a poluição costuma ser medida e divulgada pelo Twitter da embaixada americana. Às 21h de ontem, o índice alcançou 609.

Pela conta na rede social, a embaixada divulga, hora a hora, a concentração de PM 2.5 (partículas no ar pequenas o bastante para chegar aos pulmões e provocar danos) e o índice correspondente a essa concentração.

O ar é considerado bom com um AQI até 50; moderado de 51 a 100; ruim para a saúde para grupos sensíveis de 101 a 150; ruim para a saúde de 151 a 200; muito ruim para a saúde de 201 a 300; e perigoso de 301 a 500 –em todos esses casos quando considerada uma exposição de 24 horas sob tal concentração de partículas.

Quando o ar está “perigoso”, a sugestão é evitar todas as atividades ao ar livre.

E quando está mais que perigoso, o que fazer?

Ontem, quando a densa névoa já tomava conta da cidade, eu vi uma proporção maior de pessoas cobrindo o rosto com máscaras ou cachecóis, pessoas comprando máscaras e muita gente impressionada. Mesmo para os padrões poluídos da capital, a atual onda marrom choca.

De acordo com matéria do “China Daily” de hoje, a cidade de Pequim ordenou que 2.100 empresas do ramo das indústrias mais poluentes suspendessem seus trabalhos e que todas as obras fossem interrompidas.

Incrivelmente, ainda há quem se inspire entre tanta fumaça. O site Shanghaiist fez uma matéria sobre um artista chinês que passou 100 dias sugando o ar de Pequim com um aspirador de pó. Depois transformou toda a sujeira em um tijolo.

A previsão é que, a partir desta quarta (2), uma corrente de ar frio vinda do Oeste leve daqui a densa névoa. Até lá, boa parte dos habitantes de Pequim vai ficar em casa, trocar os filtros de seus purificadores de ar e olhar pela janela esperando novos ares.

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A volta das bicicletas em Pequim http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/11/18/a-volta-das-bicicletas-em-pequim/#respond Wed, 18 Nov 2015 12:00:33 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=530 Na semana passada, o jornal “The New York Times” escreveu sobre os planos da cidade de Pequim para ampliar o uso de bicicletas como meio de transporte, opção que vem sendo cada vez menos usada pelos chineses da capital.

Segundo a matéria do jornal, apenas 12% dos residentes de Pequim usam bicicletas como meio de transporte hoje em dia, em comparação com 38% no ano 2000. E a meta, diz o texto, seria expandir o percentual para 18% até 2020.

Parece, no entanto, que não se trata de uma tarefa simples, mesmo num país famoso pela gigantesca quantidade de bicicletas. Em 2010, um jornal local informou que uma tentativa semelhante estava em curso em Pequim: naquele ano, 19,7% usavam bicicletas como meio de transporte, e a meta era expandir para 23% em 2015.

Por que não deu certo? E quais são as dificuldades do ciclista em Pequim?

A princípio, uma boa parte das ruas e avenidas tem uma faixa destinada a veículos não motorizados –o que inclui bicicletas, motos elétricas, tuc-tucs, patinetes elétricos e até cadeiras de roda motorizadas.

Mesmo assim, há dificuldades, como: 1) os vários carros estacionados nesses locais, por falta de vagas para carros em número suficiente na cidade; 2) alguns trechos sem a faixa específica; 3) o fato de bicicletas, motinhos e pedestres trafegarem nos dois sentidos nessas faixas, o que transforma esse espaço num verdadeiro caos.

Já ouvi de várias pessoas que o plano e andar de bicicleta em Pequim foi descartado por ser “perigoso”.

Outras dificuldades são o tamanho da capital, o que só permite o uso da bicicleta para trechos relativamente curtos, a frequência dos altos índices de poluição e o frio pesado durante o inverno.

Por outro lado e apesar desses entraves, usar a bicicleta pode ser a salvação nesta cidade de trânsito enlouquecedor. Pode, por exemplo, nos levar em 20 minutos de um ponto a outro num trajeto que, nos horários de engarrafamento, levaríamos até uma hora de carro.

No livro “Red China Blues”, a jornalista Jan Wong conta que, em 1981, só 20 residentes de Pequim tinham um carro particular. Hoje, menos de 35 anos depois, a cidade tenta lidar com uma frota de 5 milhões de veículos, engarrafamentos constantes e um alto –e criticado– nível de poluição. Será que voltam as bicicletas?

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Quando tudo o que se quer é um céu azul http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/quando-tudo-o-que-se-quer-e-um-ceu-azul/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/quando-tudo-o-que-se-quer-e-um-ceu-azul/#respond Sun, 18 Oct 2015 11:00:10 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=503 Viver em Pequim é ver seu humor variar a depender da cor e da visibilidade do céu.

Este sábado (17), por exemplo, era o dia para não sair da cama: a cidade acordou em meio a uma espessa névoa, e as medições indicavam nível “perigoso” para a saúde por conta da concentração de partículas finas no ar.

E o final de semana começou mal não apenas para a capital. Quem cruzou o país num trem ontem, de Norte a Sul, viu que o céu só voltou a ser azul após 3h30 de viagem a partir da capital (ou seja, a cerca de 1.000 km de Pequim).

Uma medição divulgada pelo Greenpeace essa semana indicou que quase 80% das 367 cidades cuja qualidade do ar é avaliada na China não cumpriram, este ano, os padrões de pureza estabelecidos pelo próprio país. E, apesar de elas terem registrado queda média de 12,1% na presença das partículas finas, o atual cenário ainda é muitas vezes pior do que o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Entre as províncias, Pequim foi a segunda pior colocada em termos de concentração média das impurezas, atrás apenas de Henan.

Há, no entanto, lufadas de ar fresco de tempos em tempos.

Para garantir um bom cenário para a parada militar de 3 de setembro em Pequim, por exemplo, o governo fechou fábricas, parou obras e tirou carros de circulação. Conseguiu duas semanas de céu azul e ar fresco, levantando o debate sobre como, a que preço e quando será possível ter a boa qualidade do ar permanentemente.

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Olimpíadas x Direitos humanos: quem leva? http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/30/olimpiadas-x-direitos-humanos-quem-leva/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/07/30/olimpiadas-x-direitos-humanos-quem-leva/#respond Thu, 30 Jul 2015 13:00:43 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=463 A eleição da cidade-sede das Olimpíadas de Inverno de 2022 será nesta sexta-feira (31), na Malásia. A disputa está entre Pequim e Almaty (no Cazaquistão).

Nos últimos meses, a imprensa chinesa não cansou de propagandear os planos, os investimentos e as promessas para os eventuais jogos de 2022.

Promessas até inusitadas: o céu da capital, geralmente nublado de poluição, estará azul. “Pequim promete ar de melhor qualidade e suficiente neve para as Olimpíadas de Inverno de 2022”, dizia o título de uma matéria da agência estatal de notícias Xinhua na última terça (28).

Apesar de parecer baseada em mágica, a promessa do céu azul não é assim tão intangível. Quando Pequim recebeu a reunião da Apec (grupo para cooperação econômica dos países da Ásia e do Pacífico), em novembro passado, teve uma semana de límpido céu azul –conseguido ao custo de fábricas fechadas e parte dos carros proibida de circular. A beleza do céu gerou a popular hashtag #apecblue.

Mas, dessa vez, há quem esteja mais preocupado com outras questões. Em seu site, a organização HRW (Human Rights Watch) questionou o nível de respeito aos direitos humanos nos países que participam da competição.

“Autoridades da China e do Cazaquistão são abertamente hostis à imprensa e a ativistas que criticam o governo, e falham na proteção da liberdade de expressão, reunião, associação e outros direitos humanos básicos. Discriminação e violações trabalhistas, e a falha governamental de combate-las são preocupações sérias. Nenhum dos dois países oferece mecanismos judiciais eficazes e independentes para pessoas que buscam proteção contra abusos”, diz a HRW em seu site.

Além disso, lembra a entidade, o COI (Comitê Olímpico Internacional) estabeleceu, no fim do ano passado, com a Agenda 2020, novas recomendações para garantir o cumprimento do respeito a liberdades individuais e trabalhistas.

Em um relatório de avaliação das duas candidaturas publicado em junho desse ano, o COI afirma ter considerado opiniões independentes a respeito de “proteção do meio ambiente, tratamento de presos, liberdade de imprensa, acesso à internet, direito de manifestação e integridade dos sistemas judicial e eleitoral” relacionadas a Pequim e Almaty. E, segundo o documento, levou essas questões às duas potenciais cidades-sede, tendo recebido resposta de que as regras das Olimpíadas seriam devidamente cumpridas.

 

Para a HRW, no entanto, essa promessa não é suficiente. Entre as soluções propostas pela entidade está a formação de um grupo de monitores independentes que avaliaria as medidas adotadas pela cidade-sede para garantia efetiva da proteção dos direitos humanos.

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Do país das bicicletas ao caos “comportado” http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/29/do-pais-das-bicicletas-ao-caos-comportado/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/29/do-pais-das-bicicletas-ao-caos-comportado/#respond Fri, 29 May 2015 14:00:09 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=387 O motorista qualificado deve não apenas ser tecnicamente apto mas também, e mais importante, ter hábitos bons e éticos na direção. Certo ou errado?

Quando encontrar uma rua com trânsito pesado, a forma correta de lidar com a situação é: A) Encontrar espaços e ultrapassar um veículo de cada vez; B) Abrir caminho; C) Buzinar para que o carro da frente acelere; ou D) Parar e esperar em fila?

As questões, cujas respostas corretas são “certo” e “D”, estão entre aquelas feitas aos candidatos a motorista em Pequim. Mas, se eles acertam na teoria, na prática a conversa é outra. Na prática, aqui o motorista mais se defende dos outros do que anda para a frente.

Com mais de 5,5 milhões de veículos motorizados nas ruas –número próximo da frota de carros da capital paulista– e outros milhões de bicicletas, “tuc-tucs”, motinhos e bicicletas elétricas, juntos e misturados, a capital chinesa é um verdadeiro caos no quesito trânsito –assim, talvez a pergunta devesse ser “mais importante é ter bons hábitos e coragem?”.

Dirigir, na China, é uma prática relativamente nova. No livro “Red China Blues” (ótima leitura, aliás), a jornalista sino-canadense Jan Wang conta que, em 1981, Pequim só tinha 20 carros privados. Segundo dados do “China Daily”, além desses 20 carros (!), existiam cerca de 100 mil veículos em geral, de transporte público ou oficiais, na capital.

Uma foto do exército de bicicletas de Pequim ao lados da frota de ônibus, no início dos anos 80, pode ser visto no Tumblr chinaandchange.

Agora, calcula-se que existem 63 carros em Pequim para cada 100 residências –o maior índice do país, o que já desencadeou medidas como adoção de rodízio, aumento do preço dos estacionamentos e sorteio para compra de licenças para carros na cidade.

Mas, voltando ao trânsito, eu diria que apesar da falta de experiência e da quantidade enorme de carros, o caos é até bem comportado. Isso porque, primeiro, raramente os carros andam em altas velocidades –até pelo trânsito constante, é difícil passar dos 60 km/h.

Em segundo lugar, todos os veículos não motorizados devem andar na sua própria faixa –o que nem sempre é possível, já que muitos carros estacionam nessa faixa. Mas essa separação, pelo menos, impede a prática mortal das nossas cidades: motinhos não andam nos corredores entre os carros.

Por fim, e mais curioso, é que parece existir um combinado entre todos esses diferentes atores do trânsito, o de que tudo é permitido desde que você vá em velocidade baixa e não atropele ninguém. Sendo assim, ninguém vai buzinar se você fizer o retorno em local impróprio, estacionar na faixa do ônibus, andar na contramão (da rua ou da faixa para bicicletas), subir na calçada, etc etc etc.

A única coisa imperdoável para as buzinas de Pequim é ficar parado um segundo que seja frente à mudança para o sinal verde.

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Como conhecer Pequim em 8 dias http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/22/como-conhecer-pequim-em-8-dias/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/22/como-conhecer-pequim-em-8-dias/#respond Fri, 22 May 2015 14:00:30 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=376 Com exceção da Cidade Proibida e da Muralha da China, os pontos turísticos de Pequim são pouco conhecidos por boa parte dos turistas que desembarca na cidade.

Dez dias por aqui e ainda há muita coisa para conhecer. Assim, o blog propõe um roteiro básico de oito dias na cidade. Shows (como os de acrobacia), lugares para compras, parques, prédios famosos e a periferia da cidade vão ficar quase todos de fora desse guia, que é apenas um passeio básico.

Antes de começar, duas recomendações: 1) Aproveite o primeiro dia de sol e sem poluição para visitar a muralha; 2) Aproveite o segundo dia bonito para ir à Cidade Proibida e ao parque em frente à sua saída.

Trecho da grande muralha, em Mutianyu
Trecho da grande muralha, em Mutianyu (novembro de 2014/ Johanna Nublat)

DIA 1 – Nanluoguxiang e Gulou: passeio pelos hutongs

Uma boa forma de entender a cidade é conhecer um de seus elementos fundamentais, os hutongs. Desça na estação do metrô Nanluoguxiang (linhas 6 e 8), pegue a saída “E” e você estará na bem movimentada rua Nanluoguxiang. Ande por ela, entre muitos chineses e estrangeiros, lojinhas e restaurantes. De tempo em tempos, é possível ver ruas mais quietas, onde ainda moram pessoas. Caminhe até chegar à rua Gulou East e, então, vire à esquerda nessa rua. Logo em frente, você verá a Torre do Tambor e, a uma pequena distância, a Torre do Sino. Um bom lugar para comer por ali é o Mr. Shi’s Dumplings, bolinhos chineses fritos e cozidos, de todos os sabores possíveis.

DIA 2 – Cidade Proibida e escorpiões

Momento para visitar um dos principais cartões-postais da China, a Cidade Proibida. Chegue pelas estações Tian’anmen West ou East (ambas da linha 1). Não tem como se perder –e, se isso acontecer, procure pela foto pendurada na entrada do lugar: a de Mao Zedong. Você vai terminar esse (longo) passeio saindo por trás da Cidade Proibida, do lado oposto da entrada. Se o dia estiver claro, atravesse a rua, entre no parque Jingshan e suba a pequena colina. É uma das mais belas vistas da cidade.

Pegue um táxi ou um “tuc-tuc” (carrinhos sobre motos) até a Wangfujing, a movimentada rua de comércio. Lá é possível almoçar, tomar café, olhar lojas e… encontrar os famosos escorpiões no espeto (em uma pequena rua que cruza com a Wangfujing). Um bom lugar para comer ali é o “hot pot” da rede Haidilao. É uma espécie de “fondue”, em que carnes e legumes são cozidos num caldo.

DIA 3 – Muralha da China e bares de Sanlitun

É possível visitar alguns diferentes trechos da muralha, uns mais e outros menos reconstruídos. Uma boa opção é Mutianyu, onde há a possibilidade de subir e descer andando (cerca de 40 minutos para subir e 40 para descer), subir e descer de bondinho e descer num escorregador. Tente ir em um dia de céu azul. Possivelmente, a melhor pedida seja contratar um carro ou comprar o passeio com alguma das agências para turistas.

Depois de tanto caminhar, subir e descer, use a noite para conhecer Sanlitun, lugar de embaixadas, bares, restaurantes, lojas e de muito movimento até tarde (chega-se de táxi ou pela estação Tuanjiehu, da linha 10, saída “A”). Um pouco afastada de todo esse movimento está a cervejaria Great Leap, com cerveja chinesa, batatinhas e sanduíches.

DIA 4 – Lama Temple e arredores

Um conjunto de lugares pode ser visitado ao mesmo tempo. Desça na estação Yonghegong/Lama Temple (linha 2, saída “C”) e visite o belo Lama Temple (depois de passar pelos jardins do local, pegue os incensos que eles oferecem de graça). De lá, vá caminhando até a entrada da Academia Imperial/Templo de Confúcio (um bilhete para visitar os dois). Terminado o passeio, a sugestão é tomar um café no Barista Coffee, em uma ruazinha de hutong.

Para o jantar, talvez seja o momento de comer o famoso pato de Pequim.

DIA 5 – Praça da Paz Celestial e arredores

Desça nas estações Tian’anmen East ou West (ambas na linha 1) e atravesse para uma praça que carrega muita história, parte dela bem negativa. É possível visitar o mausoléu de Mao Zedong e ver grupos de militares passando pela praça com movimentos milimetricamente iguais –aliás, é um dos poucos lugares em que você, turista, vai ver policiamento tão presente.

Saia da praça pelo lado oposto à entrada da Cidade Proibida (ou seja, você quer estar ao redor da estação de metrô Qianmen, na linha 2). Se estiver na hora de almoçar, é uma boa ideia comer no Lost Heaven. Em seguida, pegue a rua de pedestres que parte da estação Qianmen e se perca pelo hutong (parte dele é tido como uma das áreas mais preservadas da cidade). Há muitas lojinhas e chineses andando por todos os lados. Quando cansar, tome um café no Soloist.

Se ainda tiver energia, vá jantar em algum restaurante em volta do lago Houhai (estação Sichahai, linha 8).

DIA 6 – Templo do Céu e lugar das artes

Esse pacote é um dos mais belos e agradáveis passeios de Pequim. De manhã, vá ao lindo Templo do Céu (estação Tiantandongmen, linha 5). Além do templo deslumbrante, você pode ver noivas tirando fotos, chinesas dançando juntas e homens jogando.

O passeio da tarde é ir ao 798 (de táxi), o distrito das artes de Pequim. Um antigo bairro de fábricas foi transformado em um conjunto de galerias moderninhas, lojas e restaurantes. Há esculturas no meio da rua e muita gente passeando (principalmente no final de semana).

DIA 7 – Palácio de Verão

Pequim tem muitos parques. Alguns, como o que abriga o Templo do Céu, estão no roteiro básico dos passeios. O Palácio de Verão é outro. A estação de metrô mais próxima é Beigongmen (linha 4). Comer por lá pode ser difícil, talvez seja uma boa ideia levar um lanche.

Tarde livre para compras. Para quase qualquer item desejado existe um shopping em Pequim (óculos, roupas baratas, pérolas, falsificações, etc).

Vá jantar na colorida rua Gui Jie. Minha sugestão é o restaurante Huá, que tem uma enorme variedade de pratos chineses (incluindo o pato de Pequim) e fica num espaço muito agradável. A estação de metrô é a Beixinqiao, na linha 5.

DIA 8 – Lembranças e futebol

Sábado ou domingo, vá ao mercado Panjiayuan (estação Panjiayuan, linha 10, saída “C”). Lá, você vai encontrar bules de chá (de cerâmica ou metal), pincéis, pedras, quadros, roupas, bolsas, budas e muitas outras coisas que você quis comprar ao longo da sua semana em Pequim. De forma geral, as coisas são baratas lá; mas existe espaço para negociação. Mesmo quem não quer comprar nada deve ir a esse mercado, cheio de chineses em movimento.

Por fim, uma visita ao Ninho de Pássaro, o estádio das Olimpíadas, e ao Cubo, que recebeu as competições de natação. Um está ao lado do outro, e ambos podem ser vistos ao redor das estações de metrô Olympic Green e Olympic Center (ambas na linha 8).

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Apaga o cigarro? Xiexie! http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/14/apaga-o-cigarro-xiexie/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/05/14/apaga-o-cigarro-xiexie/#respond Thu, 14 May 2015 14:00:22 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=362 Como pedir, educadamente, para o chinês apagar o cigarro que te incomoda em um espaço público fechado?

Em Pequim, pelo menos, pode não ser tão complicado quanto parece. A ideia, lançada em uma rede social no mês passado, é que simples gestos bastem: uma palma estendida (“não”), um “T” com as duas mãos (“pare”) ou uma mão encostada no nariz (“eu me importo”).

Um dos gestos antitabagistas lançados na rede social Wechat pela associação de controle do tabaco em Pequim
Um dos gestos antitabagistas lançados na rede social Wechat pela associação de controle do tabaco em Pequim (WeChat/maio)

Os gestos foram lançados pela associação que trabalha com o controle do tabaco em Pequim, semanas antes de entrar em vigor uma regra de ambientes livres do tabaco na cidade. A partir de 1˚ de junho, passa a ser proibido fumar em locais públicos fechados na capital e em alguns lugares abertos, como escolas e hospitais para crianças e mulheres.

Em Pequim, muita gente duvida que a “lei vai pegar”, considerando a alta taxa de fumantes no país. Em outro post, eu disse que estima-se que 28,1% dos chineses com 15 anos ou mais fumam, índice bem maior entre os homens (52,9%) do que entre as mulheres (2,4%).

Na rede, a associação argumenta que, frente à alta taxa de tabagismo e ao número pequeno de fiscais, caberá à população dar uma mãozinha e reclamar com o fumante que descumpre a regra.

Em uma votação, essa primeira imagem que apresentei, a do “não”, ganhou. A outras duas imagens propostas são as seguintes:

Segunda imagem proposta para pedir, educadamente, que o fumante apague o cigarro
Segunda imagem proposta para pedir, educadamente, que o fumante apague o cigarro (WeChat/maio)
Terceira imagem proposta mostra mulher fazendo "T" com a mão
Terceira imagem proposta (WeChat/maio)

A associação diz que as imagens transmitem a mensagem de forma fácil, clara e educada. Resta saber qual vai ser a reação das pessoas que insistirem em fumar nos locais agora proibidos.

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Perdidos no bom labirinto http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/13/perdidos-no-bom-labirinto/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/01/13/perdidos-no-bom-labirinto/#respond Wed, 14 Jan 2015 00:33:40 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=130 Quem viaja a Pequim tem os hutongs na lista de lugares obrigatórios a visitar. Em outros posts, eu expliquei o hutong como um tipo de “bairro tradicional” da cidade, noção que vou expandir agora.

São vários conjuntos de ruas apertadas e curvas, onde se anda a pé, de bicicleta, moto ou carro (se o carro couber na rua), margeadas por inúmeros siheyuans –pequeno grupo murado de casas que se organizam ao redor de um patio comum.

Andando pelos hutongs você se sente num labirinto –principalmente se você está perdido em um deles, à noite.

Essas imagens ajudam a entender sobre o que estou falando. E essas aqui mostram bem como os hutongs são vivos (e, com frequência, bagunçados).

Essas casas tradicionais foram construídas entre os séculos 13 e 20 –ou seja, algumas têm algo como 700 anos e ainda são usadas. Os hutongs que escaparam da modernização da cidade podem ser vistos em um bom pedaço da área central de Pequim.

Cada siheyuan pode ser habitado por uma só família (uma ou mais gerações da mesma família) ou mais de uma. Os mais antigos e os não reformados não têm banheiros –e, nesse caso, as pessoas usam banheiros públicos instalados ao longo das ruas.

Entrada de um siheyuan (grupo de casas) mostra uma bicicleta encostada e o armazenamento de repolhos, bastante comum no inverno
Entrada de um siheyuan (grupo de casas) mostra o armazenamento de repolhos, bastante comum no inverno (dezembro/ Johanna Nublat)

Em meio a alguns desses “bairros”, há cafés, restaurantes e lojinhas descolados, o que leva uma multidão de chineses e turistas aos hutongs. Parte do charme de passear pelos labirintos é ver, de um lado, um café moderno e, do outro lado da rua, um grupo de senhoras sentadas na porta de casa conversando.

Uma revista de atividades culturais em Pequim reuniu algumas dicas de lugares a visitar em cada hutong, vale a pena dar uma olhada.

E eu tenho, também, algumas sugestões próprias: 1) Mr. Shi’s Dumplings (74 Baochao Hutong), restaurante especializado nos famosos “pasteizinhos” chineses; 2) Barista Coffee (47 Wudaoying Hutong), um café moderninho e minúsculo; 3) Temple (23 SongZhuSi, Shatan Beijie), restaurante de comida contemporânea que tem um bar bacana; 4) as escolas de culinária Hutong Cuisine (35 DengCao Hutong) e The Hutong (1 Jiu Dao Wan Zhong Xiang Hutong); 5) e o Mercante (4 Fangzhuanchang Hutong), restaurante italiano perdido em meios aos labirintos.

Com todo esse charme e tradição, não é incomum que os estrangeiros que vivem em Pequim queiram morar em hutongs renovados. O jornalista e escritor Peter Hessler passou alguns anos na China e, pelo menos parte deles, em um hutong de Pequim. Aqui ele conta a boa experiência que teve; sugiro a leitura e o passeio pelos hutongs.

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O que colocaram nesse tofu? http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2014/12/19/o-que-colocaram-nesse-tofu/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2014/12/19/o-que-colocaram-nesse-tofu/#respond Fri, 19 Dec 2014 12:30:50 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=66 Mesmo deixando de lado a fantasia de que a população da China se alimenta de cachorros e escorpiões, a comida chinesa é, sim, estranha. Ou, pelo menos, ela parece estranha.

Nem sempre é fácil identificar todos os legumes e carnes que estão no prato. E, com frequência, o gosto não é o que você espera –se tem cara de salgado, pode ser doce, como por exemplo um popular “mexido” de ovo e tomate.

Além disso, resta sempre a dúvida: do que são feitos os molhos que acompanham quase todos os pratos?

O estranhamento faz com que muitos turistas e expatriados fujam da comida chinesa, o que não é tarefa difícil considerando as vastas opções de restaurantes estrangeiros nas grandes cidades.

Esse mundo desconhecido me fez torcer o nariz para o mapo doufu, um prato feito com tofu e que é tradicional da província de Sichuan.

Imaginava que vários produtos artificiais eram combinados para culminar nesse resultado brilhante e “molhado”.

Mapo doufu, prato feito com tofu tradicional da província de Sichuan
Mapo doufu, prato feito com tofu tradicional da província de Sichuan (abril/Johanna Nublat)

Até que um dia, em uma das aulas de culinária que fiz por aqui, o mistério do mapo doufu se desfez. O prato é feito “apenas” com tofu, uma variedade local de verdura que tem algo de alho-poró e algo de cebolinha, gengibre, alho (esses três últimos formam a base do tempero chinês), pimenta de Sichuan (que adormece a boca), pasta de feijão/soja, açúcar, shoyu, água, óleo para cozinhar, óleo de gergelim, sal e amido.

Ou seja, nada de outro mundo.

Em outra aula, entendi o que dá consistência aos molhos que acompanham praticamente todos os pratos (simplesmente amido) e ouvi uma explicação convincente para o uso frequente (e, talvez, até exagerado) deles: “O arroz é seco, precisamos de algum molho!”, disse a chef Chunyi.

Chunyi é a professora da Hutong Cuisine Cooking School, uma das escolas de Pequim que oferecem cursos rápidos para estrangeiros interessados em desbravar a culinária chinesa ou apenas entender melhor a cultura local. Outra escola famosa por aqui é o The Hutong.

Geralmente, as aulas duram entre duas e quatro horas e fazem um recorte da culinária chinesa. Assim, é possível fazer aula de dumplings, culinária de Pequim, Sichuan vegetariana, pato de Pequim 1 e 2, passeio pelo mercado, etc.

Não é uma atividade barata: cada curso custa um pouco mais de R$ 100. Mas permite decodificar essa gastronomia tão complexa e entender melhor o significado da comida para o chinês. Como as duas escolas ficam dentro de hutongs (espécie de bairros tradicionais de Pequim), as aulas também dão a oportunidade para que o turista entenda como viviam –e ainda vivem alguns– chineses de séculos passados.

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