China in Towntrem – China in Town http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br A vida do outro lado do mundo Thu, 14 Jan 2016 11:00:04 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Diário – 12 horas num trem chinês http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/23/diario-12-horas-num-trem-chines/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/10/23/diario-12-horas-num-trem-chines/#respond Fri, 23 Oct 2015 12:00:51 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=505 Troquei uma viagem de 2h30 de avião por um trajeto de 12h02 de trem entre Shenzhen (a fronteira chinesa com Hong Kong) e Xangai.

Das 10h45 às 22h47 de ontem, parei em 27 cidades antes de chegar a Xangai, num trem que andava a pouco mais de 200km/h (os trens mais rápidos por aqui circulam a cerca de 300km/h, mas não havia a opção nesse trecho).

Viajar de trem é uma autêntica experiência chinesa. No meu vagão, por exemplo, eu era a única estrangeira. Em toda a viagem, só vi mais dois gringos.

Digo autêntica porque é possível ver os chineses relaxados, comendo (muito), vendo vídeos, mexendo no celular, conversando, dormindo, brigando, chorando, roncando… ou seja, é uma oportunidade para bisbilhotar a cultura por muitas horas e de muito perto.

Em resumo, a viagem:

10h45 – A entrada no trem é uma confusão, com todo mundo querendo guardar as malas ao mesmo tempo e com pouco espaço para as bagagens grandes. Como sempre, o trem sai pontualmente. Pouco depois, uma funcionária passa vendendo potes pequenos de Häagen-Dazs.

Vista do trem na província de Guangdong mostra uma passageira olhando para o mar
Vista do trem na província de Guangdong (Johanna Nublat/ outubro de 2015)

11h45 – De repente, o trem se aproxima do mar, numa vista inesperada –sobretudo para quem está desacostumado de ver céu azul e dias bonitos. Morros de um lado, casas pequenas e tanques (de peixes?) de outro. A funcionária passa vendendo marmitas para o almoço. Quem não está dormindo está grudado no celular.

12h58 – O trem deixa para trás cidades pequenas e entra em uma cidade grande, com porto. A funcionária passa recolhendo o lixo do almoço num saco de lixo. Alguém ronca alto.

13h53 – Parados em uma estação. Mesmo em cidades modestas, as estações chinesas costumam ser grandes, de pedra (mármore/granito) e imponentes no seu estilo comunista. Para alegria de todos, desce o passageiro que roncava alto. A essa altura, respirar dentro do banheiro é para os fortes.

14h44 – Todos estão acordados e lanchando (pães e frutas). Já tem gente de pé no fundo dos vagões, esticando as pernas e carregando os celulares na porta do banheiro. A vendedora de sorvetes passa de novo, seguida por uma funcionária que varre o chão. O trem passa por mais uma cidade grande e por uma espécie de parque com castelos.

15h49 – Estamos em uma cidade de médio porte, plana. Parte das casas tem telhado tradicional, pontudos. A outra parte não é bonita. Vemos tudo sob uma luz do sol amarelada (já escurece cedo nessa parte da China). Os passageiros conversam, passa um carrinho vendendo bebidas.

16h38 – O trem passa por uma paisagem frequente no país: dezenas de prédios residenciais altos em construção. Nesse caso, conto mais de 30 gruas trabalhando em um aglomerado de edifícios quase prontos. Ao lado, mais de 40 outros iguais já estão terminados.

17h40 – Já é noite fora do trem; dentro temos aquela luz branca desagradável. Todos estão cansados, e o trem está quieto.

18h25 – Parados em Wenzhou, temos a maior renovação de passageiros durante a viagem. Eles entram “frescos”, enquanto os passageiros originais não querem pensar que ainda faltam mais de 4 horas até o fim da viagem.

19h25 – A funcionária passa vendendo pipoca de microondas já estourada. Não parece fazer muito sucesso. O cup noodles e as garrafinhas de chá são mais populares.

22h47 – Finalmente, chegamos. O trem está só 60% cheio. Talvez pelo cansaço geral, ninguém sai correndo de forma afobada, como costuma acontecer aqui no fim de viagens de trem ou avião.

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De trem pela China http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/02/10/de-trem-pela-china/ http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/2015/02/10/de-trem-pela-china/#respond Tue, 10 Feb 2015 10:50:59 +0000 http://f.i.uol.com.br/folha/colunas/images/14342346.jpeg http://chinaintown.blogfolha.uol.com.br/?p=209 Cumprindo a promessa feita no último post, sobre minha viagem à congelante Harbin, vou contar sobre a experiência de viajar de trem pela China.

Logo de início, digo que é bom, não é caro e é uma boa forma de conhecer os chineses de perto. Talvez até muito de perto.

São vários os tipos de trem e as formas de se viajar neles. Há trens rápidos, que viajam a velocidades próximas de 300 km/h, e trens mais lentos, como os que fazem viagens noturnas. Em alguns, só se pode viajar em poltronas, mais ou menos confortáveis a depender do quanto se paga.

E, em outros, pode-se escolher bancos, camas com cobertas em cabines fechadas (para quatro pessoas, chamado de “soft sleeper”) ou várias camas dispostas em um vagão sem cabines (é o “hard sleeper”).

As duas modalidades de camas são confortáveis e bem limpas. Na que não tem divisórias, perde-se um pouco de privacidade e conforto, mas ganha-se a possibilidade de espiar os chineses dormindo, bebendo chá e cerveja e, principalmente, comendo no trem.

Para viagens curtas ou longas, o chinês leva com ele uma sacola de comida –apesar de muitos dos trens oferecerem restaurantes e carrinhos que circulam com lanches e bebidas.

E a estrela da “lancheira” do chinês, certamente, é o cup noodles, provavelmente pela facilidade: basta abrir a embalagem e colocar um pouco da água quente que sai das torneiras instaladas em cada vagão. Essa mesma água é que serve de refil para as várias garrafinhas de chá que o chinês toma durante o percurso.

Cabine de um "soft sleeper" com comidas levadas pelos passageiros em cima da mesa
“Hard sleeper” com comidas levadas pelos passageiros em cima da mesa (outubro de 2013/ Johanna Nublat)

É muito comum ver amigos ou parentes sentados juntos, na mesma cama, vendo filmes em celulares e tablets, conversando e dividindo a comida. Cena bem semelhante pode ser vista nas imensas salas de embarque das estações –que estão sempre lotadas, com gente espalhada também pelo chão.

Jovem chinês desenha em um dos salões de embarque de uma estação de trem em Pequim
Jovem chinês desenha em um dos salões de embarque de uma estação de trem em Pequim (6 de fev. / Johanna Nublat)

Algumas estações de trem na China, aliás, são espetaculares. Ao embarcar em uma delas em Xangai, em 2013, lembro de ter pensado que poucos aeroportos brasileiros tinham padrão de qualidade semelhante.

Amplo e moderno saguão de estação de trem em Xangai
Estação de trem em Xangai (outubro de 2013/ Johanna Nublat)

Para vocês terem ideia do tamanho dessa rede, o sistema prevê que 300 milhões de viagens de trem serão feitas nos 40 dias que envolvem o Festival da Primavera, mais conhecido por nós como ano novo chinês (que cai no próximo dia 19).

Eu já fiz mais de dez trechos de trem pela China, desde 2013, sendo que dois deles duraram mais de 20 horas cada um. E, depois dessa aventura, recomendo a experiência. Há trechos mais simples, como Pequim-Xangai (cerca de 5h30) ou Pequim-Xi’an (também cerca de 5h30 de viagem) –há passagens para cada um desses trechos a partir de US$ 90.

E achei nesse site roteiros mais elaborados, com bonitas paisagens pelo caminho.

Aproveito para dar algumas dicas para quem optar por esse tipo de viagem: 1) Mesmo que decida comer no restaurante do trem (que é bom), leve  alguma comida, como biscoitos, chocolates e frutas; 2) Se você não pode ficar sem café, leve café solúvel ou café em uma garrafa térmica; 3) É bom também levar papel higiênico (caso acabe o do banheiro nas longas viagens) e álcool gel; 4) De preferência, leve mochilas em vez de malas (e evite malas grandes); 5) E, por fim, leve algo para tampar o ouvido, já que provavelmente algum dos seus vizinhos de cama vai roncar durante a noite, e bem alto.

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