“Desculpa, não tem garfo e faca.” Essa frase, ouvida de uma garçonete, foi o que me fez compreender, de vez, que a vida agora seria diferente. A vida agora seria na China, esse país tão distante e incompreensível para nós brasileiros.
Na verdade, a cena foi pior. A garçonete disse: “Duibuqi, meiyou daocha” (para facilitar, por enquanto vou evitar os caracteres e suprimir os tons do chinês). Ou seja, a vida agora é na China, falada em chinês e, possivelmente, sem talher.
Há pouco mais de três semanas, desembarquei em Pequim pela terceira vez na vida e, agora, para uma temporada mais longa.
Nesse espaço, pretendo dividir com vocês meu aprendizado diário –gastronômico, linguístico, cultural, social, geográfico, etc. E, também, ir além do nosso senso comum. Ainda no Brasil, quando dizia que ia me mudar para a China, 75% das reações imediatas eram: “Vai ter coragem de comer escorpião? Cachorro?”.
Escorpião no palito eu vi uma só vez em Pequim, depois de muito procurar a barraquinha que vendia esses “quitutes” para turistas. Cachorro, até agora, eu só vi passeando de coleira nas ruas.
Não duvido que existam; devem existir essas comidas por aqui, mas a culinária chinesa está longe de ser essa ideia que temos cristalizada –e, sim, ela pode espantar por outros motivos, como os temperos desconhecidos e as texturas diferentes.
Quando visitei o país pela primeira vez, em outubro de 2013, cogitei trazer na mala um vidro de café solúvel, temendo não encontrar café toda manhã –eles não gostavam de chá?
Mas, quando pisei no aeroporto daqui, a primeira coisa que vi foi um Starbucks. Desde então, conto um Starbucks a cada esquina, para além de centenas de pequenos cafés moderninhos e acolhedores. Ainda não me recuperei desse susto com relação à China, o que, felizmente, vai servir de combustível para este blog.