Enquanto o Brasil se prepara para o Carnaval, a China se prepara para o novo ano e para as duas semanas de comemorações que vêm junto com a virada, no próximo dia 19.
Dizem (e não sei se é possível realmente comparar isso) que essa é a maior migração temporária de pessoas no mundo. O governo estima 2,8 bilhões de deslocamentos num período de 40 dias, oficialmente iniciado nesta quarta-feira (4). Uma “pequena” parte disso é de voos: 47,5 milhões de passageiros, segundo a estimativa. A maior parte vai pelas estradas.
Quase não há mais passagens. E as que ainda estão disponíveis tendem a ser bem mais caras que o normal.
Isso porque o Festival da Primavera, como eles chamam aqui, é como o nosso Natal: a tradição é passar com a família, comendo e trocando presentes –para crianças e funcionários de casa ou empresas, o costume é dar dinheiro em um envelope vermelho.
Eu já falei um pouco sobre o ano novo chinês em outro post, mas volto ao assunto, porque ele está tomando as ruas da China. Na verdade, está tomando as ruas (já enfeitadas de vermelho) e a cabeça das pessoas (que só pensam em viajar e descansar).
Tudo está parando e muita coisa vai fechar. Fábricas vão ficar carentes de trabalhadores. A festividade tomou até a porta da minha casa, que ganhou do condomínio um “fu” de papel –caracter chinês para boa fortuna. E ai de mim se eu tirar o papel da porta.
As tradições alimentares também já começaram. Um dia específico, na semana passada, era o momento de comer um mingau bastante rico: arroz, alguns tipos de feijão, tâmara chinesa, uva passa, açúcar mascavo e algumas castanhas. Já ontem, dia que marca o início das celebrações, era dia de comer uma panqueca com legumes e carne, ou dumplings (os bolinhos chineses, semelhantes à guioza japonesa).
Essa festa é muito antiga, tem algo como 4 mil anos. A lenda por trás dela é que havia uma fera que, no início da primavera, aparecia e comia os animais e os camponeses. Alguém teve, então, a ideia de fazer muito barulho para espantar a fera –o que explica o uso de fogos de artifício na festa.
A tradição também manda limpar a casa e usar roupa nova para trazer boa sorte –como somos parecidos, não?
Entre os estrangeiros, ouve-se muito o conselho de não viajar pela China nesse período, já que todos os lugares estarão apinhados de turistas domésticos.
Como não devo seguir esse conselho, conto para vocês em breve sobre o ano novo na China.
*Corrigi o número total de viagens, alertada por um leitor. São 2,8 BILHÕES, claro.