Dado o “start” para os festejos do ano novo chinês, na semana passada, eu e dois companheiros de viagem partimos para um final de semana em Harbin, cidade distante de Pequim oito horas de trem ou duas de avião.
Oito horas em direção ao Nordeste da China, ou seja, em direção ao frio. Trocamos uma Pequim relativamente quente –que alcançou 10˚ na última sexta (6)– por uma Harbin congelante –o celular informava -22˚ na noite deste sábado (7). Nenhuma roupa parecia bastar.
Passear em um lugar tão gelado tem uma razão, e vocês já devem ter ouvido falar do grande atrativo da cidade (durante o inverno): os parques com esculturas e prédios de gelo, com iluminação natural de dia e coloridos de noite.
Harbin é uma cidade grande (cerca de 10 milhões de habitantes), mas concentra em uma área relativamente reduzida as principais atrações turísticas: os parques de esculturas de gelo, algumas outras esculturas dispersas pelo centro, uma catedral ortodoxa, duas sinagogas, uma mesquita, o rio congelado e uma região com forte influência russa.
A primeira, e talvez maior, preocupação de quem viaja a Harbin no inverno é saber o que vestir. Seguindo conselhos de quem já veio para cá e de blogs na internet, optamos por quatro a cinco camadas de roupas (algumas delas térmicas), botas para neve, casaco e cachecol pesados, dois pares de luvas e chapéu reforçado.
Ainda assim, em determinados momentos, era impossível esquecer que o frio existia –e que era intenso. Por exemplo, quando os pelos de dentro no nariz congelavam. Ou quando os dedos do pé começavam a esfriar. Esse é o momento de entrar em algum dos vários cafés da cidade e fazer uma pausa.
O frio de arrepiar, porém, não impede alguns corajosos de testar uma comida tradicional de Harbin: um picolé.
Um pouco antes de o dia escurecer, partimos para um dos parques com esculturas de gelo; a ideia era ver as esculturas de dia e pegar o início da iluminação antes que o frio se tornasse insuportável.
Sem querer, acabamos nos metendo em uma espécie de excursão turística chinesa, com direito a muitas explicações sobre o parque (em chinês), venda de milho quente dentro do ônibus e incertezas sobre como voltar para o hotel (o parque onde fomos era do outro lado de um rio).
Curioso foi ver o pequeno número de turistas estrangeiros em Harbin. Cerca de 90% de quem passeava pelas esculturas era nacional da China –talvez pelo feriado do ano novo chinês?
Com o festival das esculturas de gelo, Harbin encontrou uma forma inusitada de virar uma atração turística, ainda mais em uma estação do ano em que quase ninguém gostaria de estar na cidade.
Mas, além das esculturas, Harbin tem um certo charme pela forte influência russa –a região ficou sob controle russo entre o fim do século 19 e o 20. Para vocês terem uma ideia, o que se vende por aqui como lembrança para turistas são bonecas russas, vodka e outros badulaques russos.
Não encontramos uma grande estrutura para turistas, com bons restaurantes e outras atrações para além das que citei. Mas a viagem vale, sim, pelo parque das esculturas, a experiência/o medo do frio e a possibilidade de ver uma cidade chinesa tão “perto” de Pequim, mas com tão pouca presença da arquitetura tradicional chinesa.
No próximo post, eu falo um pouco sobre como é viajar de trem pelo país.