De trem pela China

Por johanna nublat

Cumprindo a promessa feita no último post, sobre minha viagem à congelante Harbin, vou contar sobre a experiência de viajar de trem pela China.

Logo de início, digo que é bom, não é caro e é uma boa forma de conhecer os chineses de perto. Talvez até muito de perto.

São vários os tipos de trem e as formas de se viajar neles. Há trens rápidos, que viajam a velocidades próximas de 300 km/h, e trens mais lentos, como os que fazem viagens noturnas. Em alguns, só se pode viajar em poltronas, mais ou menos confortáveis a depender do quanto se paga.

E, em outros, pode-se escolher bancos, camas com cobertas em cabines fechadas (para quatro pessoas, chamado de “soft sleeper”) ou várias camas dispostas em um vagão sem cabines (é o “hard sleeper”).

As duas modalidades de camas são confortáveis e bem limpas. Na que não tem divisórias, perde-se um pouco de privacidade e conforto, mas ganha-se a possibilidade de espiar os chineses dormindo, bebendo chá e cerveja e, principalmente, comendo no trem.

Para viagens curtas ou longas, o chinês leva com ele uma sacola de comida –apesar de muitos dos trens oferecerem restaurantes e carrinhos que circulam com lanches e bebidas.

E a estrela da “lancheira” do chinês, certamente, é o cup noodles, provavelmente pela facilidade: basta abrir a embalagem e colocar um pouco da água quente que sai das torneiras instaladas em cada vagão. Essa mesma água é que serve de refil para as várias garrafinhas de chá que o chinês toma durante o percurso.

Cabine de um "soft sleeper" com comidas levadas pelos passageiros em cima da mesa
“Hard sleeper” com comidas levadas pelos passageiros em cima da mesa (outubro de 2013/ Johanna Nublat)

É muito comum ver amigos ou parentes sentados juntos, na mesma cama, vendo filmes em celulares e tablets, conversando e dividindo a comida. Cena bem semelhante pode ser vista nas imensas salas de embarque das estações –que estão sempre lotadas, com gente espalhada também pelo chão.

Jovem chinês desenha em um dos salões de embarque de uma estação de trem em Pequim
Jovem chinês desenha em um dos salões de embarque de uma estação de trem em Pequim (6 de fev. / Johanna Nublat)

Algumas estações de trem na China, aliás, são espetaculares. Ao embarcar em uma delas em Xangai, em 2013, lembro de ter pensado que poucos aeroportos brasileiros tinham padrão de qualidade semelhante.

Amplo e moderno saguão de estação de trem em Xangai
Estação de trem em Xangai (outubro de 2013/ Johanna Nublat)

Para vocês terem ideia do tamanho dessa rede, o sistema prevê que 300 milhões de viagens de trem serão feitas nos 40 dias que envolvem o Festival da Primavera, mais conhecido por nós como ano novo chinês (que cai no próximo dia 19).

Eu já fiz mais de dez trechos de trem pela China, desde 2013, sendo que dois deles duraram mais de 20 horas cada um. E, depois dessa aventura, recomendo a experiência. Há trechos mais simples, como Pequim-Xangai (cerca de 5h30) ou Pequim-Xi’an (também cerca de 5h30 de viagem) –há passagens para cada um desses trechos a partir de US$ 90.

E achei nesse site roteiros mais elaborados, com bonitas paisagens pelo caminho.

Aproveito para dar algumas dicas para quem optar por esse tipo de viagem: 1) Mesmo que decida comer no restaurante do trem (que é bom), leve  alguma comida, como biscoitos, chocolates e frutas; 2) Se você não pode ficar sem café, leve café solúvel ou café em uma garrafa térmica; 3) É bom também levar papel higiênico (caso acabe o do banheiro nas longas viagens) e álcool gel; 4) De preferência, leve mochilas em vez de malas (e evite malas grandes); 5) E, por fim, leve algo para tampar o ouvido, já que provavelmente algum dos seus vizinhos de cama vai roncar durante a noite, e bem alto.