Vivendo dentro da “bolha” na China

Por johanna nublat

Outro dia, um leitor do blog perguntou sobre estrangeiros que vivem na China, mas não querem ter uma vida chinesa: não comem a comida local, não falam chinês, não têm amigos nascidos aqui e não participam quase nada do cotidiano nacional. Em resumo, vivem no que se chama “a bolha”.

Para começar, digo que a “bolha” de Pequim é muito confortável. Assim como é a de Xangai e, imagino, são as de outras grandes cidades do país.

Quem não quer comer a temperada comida chinesa pode escolher restaurantes de quase todas as demais nacionalidades e formas: espanhola, comida árabe, tailandesa, indiana, vietnamita, americana, francesa, brasileira, japonesa, etc. E boa parte dos restaurantes entrega a comida em casa.

Também não é preciso falar chinês para se virar bem em Pequim. Sabendo algumas expressões básicas na língua local –quanto é? motorista, me leve para casa! quero este (apontando para o cardápio com fotos e, geralmente, traduções para inglês)– é possível viver sem grandes sustos.

Além dos cardápios, há também traduções para o inglês no metrô.

Outra facilidade, nas grandes cidades, são os supermercados “feitos para gringos”, em que a maioria dos produtos é importada. Ou seja, o macarrão e o molho de tomate são italianos, a geleia e os queijos são franceses, os biscoitos e as cervejas são ingleses, e por aí vai. A oferta de produtos importados é bem maior do que é, por exemplo, em Brasília.

Nesses mercados, quase todos os produtos têm rótulos em inglês, o que faz uma grande diferença se comparados aos supermercados chineses –em que encontrar uma garrafa de vinagre pode ser complicado se você não lê chinês.

É preciso dizer que, nesses restaurantes e supermercados “internacionais”, tudo é mais caro. Enquanto um hambúrguer pode sair por R$ 60 em um desses restaurantes, um prato de comida chinesa num restaurante simples sai por menos de R$ 8.

Além do preço mais alto, esse conforto para os estrangeiros está restrito às áreas por onde eles circulam –e vivem, muitos deles em condomínios, também, de alto padrão. Dificilmente, quem mora nas bordas da cidade vai encontrar, por lá, uma lata de tomate italiano.

Assim, digo é possível viver na China sem se integrar muito. E não é difícil entender quem faz essa opção, considerando que a comida é tão diferente (estranha?) para paladares estrangeiros, que a língua é dificílima de ser aprendida e que, às vezes, a China parece um outro planeta.

Também é verdade que, em muitos desses locais “internacionais”, parte da clientela é a classe média/alta chinesa. Sendo assim, até que ponto a própria China (ou a parte rica dela) também não vive afastada do que ainda vemos como sendo a China tradicional?

Um ponto que faço, no entanto, é que, ao se isolar, o estrangeiro perde a oportunidade de descobrir novos gostos (como a extraordinária pimenta da região de Sichuan), de se abrir para uma cultura tão rica como a chinesa e de derrubar tantos sensos comuns que envolvem esse país que, para alguns, vai continuar distante e desconhecido.