Imaginem a cena de uma cozinha sempre “acesa”, com as panelas quentes e a água fervendo. Agora esqueçam o cenário de uma fazenda no interior do Brasil com pessoas bebendo café, e visualizem uma “wok” chinesa fritando algo em altas temperaturas e muita gente bebendo chá.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Renmin, em Pequim, chegou à conclusão que os domicílios chineses gastam um percentual bem maior de energia para cozinhar se comparados com residências de países como Estados Unidos e França.
Na média, o ato de cozinhar é responsável por 23% da energia usada nas residências chinesas, percentual que sobe para 43% no campo e cai para 19% nas cidades, segundo artigo de 2014 de Xinye Zheng, Chu Wei, Ping Qin, Jin Guo, Yihua Yu, Feng Song, Zhanming Chen, da escola de economia de Renmin.
No país como um todo e nas cidades, cozinhar só consome menos energia que o aquecimento das casas –no campo, onde o aquecimento das residências está menos disponível, cozinhar é campeão no gasto de energia.
O artigo faz uma comparação com outros países, como Estados Unidos, França, Alemanha e Canadá, e diz que, nos demais, cozinhar abarca uma fatia que vai de 6% a quase zero do consumo geral das residências.
Independentemente dessas proporções, as residências chinesas ainda gastam bem menos energia, no consumo total, que as moradias desses outros países, explica o artigo.
O estudo usou 1.450 entrevistas válidas, feitas em 2013, sendo que 80% delas foram em ambiente urbano e 20% no rural.
Na avaliação dos pesquisadores, mais de um fator deve ser responsável por essa fatia maior do gasto de energia para cozinhar; por exemplo, o uso de fontes de energia menos econômicas na cozinha.
E, algo que mais me interessou para o post, o estudo não despreza que, “vivendo na rica cultura culinária da China, as famílias desenvolvem forte preferências de sabor e destinam mais tempo no ato de cozinhar”, diz o artigo em tradução minha.
Segundo um chinês com quem conversei, as pessoas daqui têm um “estômago chinês”, o que explicaria a importância que dão a sua comida tradicional –e, se possível, caseira.
Em 2014, o presidente da China, Xi Jinping, deu o que falar depois que disse, em uma viagem internacional, que os nacionais de seus país deveriam comer menos cup noodles e mais a comida do lugar para onde viajam.
Como muitos chineses não conseguem se acostumar com a comida ocidental, acabam carregando em suas viagens alimentos que consigam rapidamente preparar e que pareçam familiares –e, nesse caso, nada melhor que o cup noodles.
Na última vez que viajei para Pequim, enquanto esperava no salão de embarque de Dubai, vi uma família chinesa comendo em uma espécie de piquenique. De repente, uma chinesa tirou da sacola um pão chinês fresco (que eu não consigo imaginar onde ela conseguiu) e um saquinho com uma carne processada imersa em um molho bem vermelho (e bem industrializado), e começou a comer os dois juntos.
Uma outra chinesa do grupo parecia bem infeliz comendo um pão de estilo ocidental, e só ficou contente quando a primeira chinesa resolveu dividir com ela um pouco do seu lanche “de casa”.
Nós também somos assim, não? Sempre com receio do que vamos encontrar na mesa de terras “estranhas”.