A avó tinha os pés enfaixados (“lírios dourados de 8 cm”) e foi concubina de um general chinês por volta de 1920. A mãe se juntou aos comunistas logo nos primeiros anos do novo governo. E ela, a autora chinesa Jung Chang, cresceu em meio à temida “Revolução Cultural” (1966-1976).
Essa é a narrativa pessoal que conduz os leitores pelas mais de 600 páginas do famoso livro “Cisnes Selvagens –Três filhas da China” (1991), que conta a história moderna do país de uma forma leve, justamente por ter a trajetória de uma família como perspectiva.
Esse foi o livro que mais me ensinou sobre cultura, história e sobre como é o pensamento dos chineses de forma geral; por isso, comecei por ele o post que pretende oferecer sugestões de leituras sobre a China.
Como disse, “Cisnes Selvagens” abarca variados aspectos. Fala, por exemplo, de como ter concubinas era uma prática entre os chineses do início do século passado, e de como elas se relacionavam com as esposas. Explica, em detalhes, o que foi a “Revolução Cultural” e seu pesado impacto sobre a vida cultural, o ensino e até o dia-a-dia do trabalho da época.
O livro não é bem-visto pelo governo chinês. Como também não é “Mao –Uma história desconhecida” (2005), escrito pela mesma autora, dessa vez em parceria com o marido de Chang, o britânico Jon Halliday.
Quem quiser saber mais sobre Chang, pode ler essa entrevista que ela deu ao “Telegraph”, em 2013.
Ainda no campo “história”, sugiro “Sobre a China” (2011), do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger; “The search for modern China” (1990), do Jonathan S. Spence; e “The Penguin history of modern China –The fall and rise of a great power” (2008), do Jonathan Fenby.
Enveredando para o lado cultural, o livro mais interessante que li até agora foi o “On the noodle road” (2013), da jornalista sino-americana Jen Lin-Liu. É a narrativa da busca de Lin-Liu pela origem do macarrão; a ideia é confirmar ou refutar, de vez, a tese de que Marco Polo levou o macarrão da China para a Itália –não darei a vocês o resultado dessa busca.
Durante seis meses, a jornalista viaja pela Rota da Seda e descreve, em detalhes, as comidas que encontra –com foco maior no macarrão. Ela sai de Pequim, atravessa o quase desconhecido oeste chinês, e passa por países como Irã, Turquia, até chegar a Roma. E, ainda, dá as receitas do que encontra pela frente.
Um outro livro da mesma autora, e anterior ao do macarrão, é o “Serve the people” (2009), em que Lin-Liu conta sobre a descoberta que faz da China (e da culinária chinesa) depois de ter vivido quase toda a vida nos Estados Unidos.
Outro autor de sucesso é Peter Hessler, correspondente pela revista “The New Yorker” na China entre 2000 e 2007, que escreveu bastante sobre a transformação social e econômica do país. O livro mais famoso de Hessler é o “Oracle Bones” (2006).
Para terminar, cito dois autores chineses contemporâneos bem conhecidos e com vasta publicação literária: Mo Yan e Yu Hua.
Boa leitura!