Elas se protegem, nós nos bronzeamos

Por johanna nublat

Cremes para o rosto com o objetivo de hidratar, rejuvenescer ou clarear?

Na China, essas são as opções básicas disponíveis no mercado, o que coloca brasileiras e chinesas em campos opostos no quesito cor da pele desejada.

Enquanto uma boa parte das nossas mulheres compra produtos para ficar (ou pelo menos parecer) bronzeada e faz maluquices nesse sentido, as chinesas são capazes de ir à praia com uma balaclava na cabeça para fugir do sol e do aspecto “camponesa”.

Até muito pouco tempo atrás, a China era um país onde a maioria das pessoas trabalhava a terra –e, assim, sob o sol– e uma pequena parte da população, mais rica, vivia protegida do sol e de suas consequências sobre a pele.

“No Leste da Ásia, o entendimento dominante é que a pele branca, pálida, indica sucesso e bom status (…) Até 30 anos atrás, a China era uma sociedade estritamente agrária, com a vasta maioria da população trabalhando no campo. A classe dominante permanecia em ambientes fechados conduzindo os negócios e desfrutando de lazer, e, assim, era menos exposta ao bronzeamento do sol. O tom da pele se tornou um indicador do status no império chinês, e a pele clara da classe dominante tem sido desejada desde então”, explica em um artigo Elysia Pan, uma graduanda da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, que estudou de perto as consequências sociais e de mercado dessa preferência.

Essa diferença no padrão da beleza, na verdade, é comum a outros países do Leste da Ásia. E se opõe não só ao padrão brasileiro, como vocês sabem, mas ao de países como Estados Unidos e França –onde o bronzeado também costuma ser um aspecto desejado pelas mulheres.

No artigo que escreveu em 2013, Pan cita alguns levantamentos interessantes para mostrar a força desse mercado na região.

“De acordo com um relatório Nielsen de 2007 chamado ‘Saúde, Beleza e Cuidados Pessoais’ que avaliou 46 mercados, 85% da população global não investe no clareamento da pele, mas o restante que investe está fortemente concentrado na Ásia, onde 30% dos chineses usam produtos para clarear a pele diária ou semanalmente, seguidos por 20% dos taiwaneses e 18% dos japoneses e consumidores de Hong Kong. Além disso, em 2004 um relatório conduzido pela Industry Canada informou que ‘em Taiwan, produtos para clareamento representavam 35% das vendas de cosméticos nas lojas'”, diz Pan em minha tradução.

Para terminar, sugiro uma espiadinha no tal do “facekini” (a balaclava usada na praia) das chinesas, que virou tema de um editorial de moda no ano passado.