A propaganda vermelha

Por johanna nublat

O cartaz mostra uma massa de trabalhadores segurando faixas contra o imperialismo norte-americano e carregando os famosos “livros vermelhos” –livretos com o pensamento de Mao Zedong. No fundo laranja, Mao paira sobre os trabalhadores sorrindo.

Outro: bailarinas vestidas com uniformes militares se equilibram sobre a sapatilha enquanto empunham rifles.

Ou então: segurando seu livreto vermelho, uma estudante sorri após ter visto o grande líder Mao passar em frente à Cidade Proibida, em Pequim, em uma imagem que remete imediatamente à estética construtivista russa.

Esses são três dos pôsteres da propaganda comunista produzidos e divulgados durante o governo Mao (que terminou com sua morte, em 1976), reunidos pelo Shanghai Propaganda Poster Art Center, um espaço privado em um bairro descolado de Xangai.

Desde meados da década de 90, o centro conseguiu resgatar mais de 6 mil pôsteres produzidos entre 1940 e 1990 na China –apenas uma pequena parte deles, porém, está exposta no espaço. Originais e cópias podem ser adquiridos na lojinha.

Centro em Xangai exibe pôsteres da propaganda comunista
Centro em Xangai exibe pôsteres da propaganda comunista (março/ Johanna Nublat)

Não esperem encontrar um museu bem estruturado; o espaço é bastante simples, no subsolo de um prédio residencial. Mas é bem feito: cada conjunto de imagens traz uma explicação da época em que foram produzidas e as intenções de cada cartaz.

Sobre as imagens mais conhecidas, da Revolução Cultural (1966-1976), a mostra explica: “O culto à personalidade de Mao chegou ao seu máximo. Em pôsteres da época, Mao se tornou o sol vermelho brilhando sobre girassóis simbolizando o povo. A criação de pôsteres de propaganda era bastante encorajada, com a maioria sendo produzida e distribuída pelas massas”.

O catálogo de uma mostra feita em 2014, na Universidade de Edimburgo, com as imagens do centro de Xangai explica a produção dos pôsteres pelo povo: “Sob a extrema pressão política causada por incontáveis campanhas [de perseguição] com mudanças de vítimas e alvos, qualquer erro político ou mensagem incorreta poderia ser fatal para o artista”.

Antes desse período, no entanto, explica o catálogo, as imagens foram produzidas por renomados artistas chineses, com o objetivo de “difundir os pontos de vista políticos comunista, chamar para a participação em vários movimentos políticos e campanhas, e para propagar o comportamento correto”.

A onda dos pôsteres foi reduzida com o fim da era Mao, explicam os cartazes do centro de artes em Xangai. “Em 1979, Deng Xiaoping subiu ao poder e restabeleceu a ordem. Ele declarou oficialmente a abolição do ‘poster de grandes figuras’, incluindo os pôsteres de propaganda. Todo o material de propaganda foi excluído de organizações do governo e mandado para reciclagem. É por essa razão que poucos originais existem hoje e, assim, se tornaram tão preciosos.”

Segundo me disse o fundador e diretor do centro, Yang Pei Ming, existe a possibilidade de que uma exposição desse material seja feita em maio, no Brasil, o que seria a primeira exibição do centro na América Latina. Ficou de me avisar –e eu darei notícias por aqui!

Já para quem estiver em Xangai e quiser conferir in loco aqui vai o endereço: 868 Huashan Rd, prédio B (ou 4), subsolo, Xuhui, Xangai. Aberto diariamente, das 10h às 17h.