As diferentes “Rotas da Seda”

Por johanna nublat

Já mencionei em outro post a saga de uma jornalista sino-americana em busca da origem do macarrão, o que levou a moça a percorrer a famosa Rota da Seda durante seis meses e publicar suas aventuras em um livro –”On the noodle road” (ou “Na rota do macarrão”).

O objetivo inicial de Jen Lin-Liu era descobrir a origem geográfica da produção da massa, alvo de um “mito” de que teria sido levada da China para a Itália pelas mãos de Marco Polo via a Rota da Seda, rede comercial que ligou com intensidade a região da Ásia à Europa por mais de 1.500 anos.

Segundo a jornalista, no entanto, essa origem não é real. “Evidências mostram que os italianos comiam massa antes do nascimento do explorador de Veneza”, diz a introdução do livro.

A busca pela origem do macarrão é uma das abordagens mais inusitadas e interessantes que já vi sobre a Rota da Seda. Além de acumular inúmeras receitas dos países por onde passou (oeste da China, Quirguistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Irã, Turquia e Itália), Jen Lin-Liu conta sobre os diferentes costumes de cada país, as semelhanças, a forma como as mulheres se vestem e interagem em cada sociedade e, é claro, a sua aproximação particular com a comida.

Mas há muitas outras formas de se debruçar sobre a famosa rota. Para começar, um vídeo curto do Crash Course explica a formação da rota e sua importância econômico-social para o mundo –e não apenas para quem queria comprar a seda, um dos produtos comercializados por essas rotas.

O vídeo conta, por exemplo, que “a rota” era formada, na verdade, por muitas rotas diferentes, por terra e água, e que poucas pessoas percorreram ela inteira: a maioria dos comerciantes operava em trechos curtos da rota, repassando produtos recebidos de cada uma de suas pontas. E que, talvez de mais impacto que a troca comercial, a rota serviu para a divulgação de novos pensamentos, como o Budismo.

Hoje, passados séculos do “fim” dessa rede, o governo chinês anda dando bastante atenção à Rota da Seda, como forma de ampliar sua presença na região que conecta a China à Europa. Como disse a própria Folha em uma matéria recente, o país lançou um fundo para promover a infraestrutura dos países vizinhos na “nova Rota da Seda”.

Frente a esse interesse crescente da China, um grupo de jornalistas locais gastou 61 dias percorrendo a rota no ano passado. Além de matérias para seus jornais, a viagem resultou em um livro de fotografias de Hu Bin, hoje diretor do departamento de atividades sociais do jornal “Guangming Daily”.

Pequeno pastor do lago Sayram
Pequeno pastor do lago Sayram, na China (Hu Bin/ divulgação)

Enquanto tomava chá, Hu Bin me contou que há 25 anos, quando ainda estava na universidade, fez uma viagem pelo oeste chinês com cerca de R$ 300 no bolso –suficiente para cobrir seus poucos gastos por dois meses. Já, no ano passado, estendeu a viagem pelos outros países da Rota da Seda, tendo encontrado muitas mudanças.

Uma das grandes diferenças que notou na região tem a ver justamente com a infraestrutura. Há 25 anos, diz ele, o oeste chinês tinha trens lentos e poucas estradas; hoje em alguns trechos é possível andar de trem bala e há boas estradas, conta.

Paisagem da fazenda de cavalos de Shandan
Fazenda de cavalos de Shandan, no oeste chinês (Hu Bin/ divulgação)

No ano passado, trechos da Rota da Seda foram incluídos na lista de patrimônio mundial da Unesco (braço da ONU para cultura e educação), com uma preocupação maior de conservação de construções –como partes da Grande Muralha– e preservação da história da rota.

Segundo o site da Unesco, o trecho listado –que inclui China, Quirguistão e Cazaquistão– “é um exemplo extraordinário na história mundial de como um canal dinâmico conectando civilizações e culturas através da Europa-Ásia realizou a mais ampla e duradoura troca entre civilizações e culturas” (tradução livre minha).