Nada pode ser pior que acordar em um dia com poluição pesada na China, certo? Aquele ar marrom, a visibilidade baixa, pessoas de máscaras pela rua.
Alguns estudos, no entanto, têm mostrado que uma sala cheia de fumantes pode ter concentração das temidas PM 2.5 –partículas no ar pequenas o bastante para chegar aos pulmões e provocar danos– pior que dias de forte poluição na cidade.
“Às vezes, na cidade de Pequim, a concentração de partículas com diâmetro menor que 2.5 μg (PM 2.5) pode alcançar 500 μg por m³ ou mais. Para colocar em contexto, as diretrizes da OMS sobre qualidade do ar recomendam que a exposição a essas partículas não exceda a concentração média de 25 num período de 24 horas. No entanto, a fumaça de apenas três cigarros queimando em um restaurante pode resultar em um índice de PM 2.5 de cerca de 600, que pode subir para cerca de 1.200 com a fumaça de cinco cigarros”, escreveram no último dia 30, em um artigo em”The Lancet”, Bernhard Schwartländer, chefe do escritório da OMS (Organização Mundial da Saúde) na China, e Angela Pratt, que trabalha com o tema do tabaco no mesmo local.
Na tentativa de banir o “fumo passivo” e cumprir diretrizes internacionais, a capital chinesa colocou em vigor, nesta segunda-feira (1˚), uma lei bastante rígida proibindo fumar em locais fechados e em alguns abertos (como hospitais para mulheres e crianças, e escolas), e restringindo a propaganda.
Há um grande ceticismo sobre a real implementação dessa lei, considerando que outras tentativas falharam no passado –com leis menos incisivas, é verdade– e, também, considerando que cerca de metade dos homens adultos fuma por aqui.
Nos últimos dias, a cidade foi tomada por cartazes dando publicidade à nova restrição, mas não faltam exemplos do descumprimento da regra –um famoso restaurante, inclusive, já foi advertido por permitir fumo em seu interior.
Proporcionalmente falando, apenas uma pequena parte dos fumantes chineses está na capital: cerca de 4 milhões dos 300 milhões estimados em todo o país. Qual é a grande questão, então?
Todos os antitabagistas da China esperam com ansiedade que a nova lei da capital seja um sucesso, já que o governo central está discutindo uma lei nacional semelhante –que, muito provavelmente, não existirá antes do próximo ano–, e que pode expandir o controle do tabaco por todo o país.
Angela Pratt, da OMS, diz que a lei de Pequim é “um grande passo” para a cidade e, também, para o país, já que é a proibição desse tipo mais dura já implementada na China –pouco mais de dez outras cidades têm leis locais que vedam fumo em ambientes fechados. E, além disso, me disse ela, é um reflexo da mudança de posição do governo central sobre o assunto.
No artigo em “The Lancet”, os representantes da OMS lembram que a lei de Pequim foi criada apesar de um grande obstáculo: “Em um país em que a maior empresa de tabaco do mundo, a China National Tobacco Corporation, é uma poderosa empresa estatal com assento na mesa de políticas de controle do tabaco, e cigarros têm uma importante aceitação social, vitórias são raras”.