Nos últimos dias, a China ganhou atenção mundial por seu controverso festival de carne de cachorro de Yulin, em que 1 kg da carne do bicho era vendida a menos de R$ 20 nos mercados de rua.
Na mesma China, há poucos anos, um exemplar de mastim tibetano foi vendido a mais de US$ 1,5 milhão, valor que provocou alvoroço até fora do país.
Esses dois lados do tema “cachorro” relevam um país que, de um lado, mantém a tradição de comer o animal apesar de tanta gritaria e, de outro, vem sendo um dos mais promissores mercados de luxo para produtos “pet”.
Em 2012, a China tinha a terceira maior população de cães do mundo (cerca de 27 milhões), atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil, segundo dados do Euromonitor para o setor “pet”. Naquele mesmo ano, nós tínhamos cerca de 37 milhões de cachorros, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, também citando o estudo do Euromonitor.
A previsão dos especialistas é que o interesse (e o gasto) nesse setor de luxo que alcançou as classes mais ricas da China cresça em ritmo mais acelerado que no mercado norte-americano, o maior do mundo, informou a “Reuters” em uma matéria de junho desse ano.
Como mencionado no post anterior sobre o assunto, trata-se de uma verdadeira revolução em prazo curtíssimo na sociedade chinesa. O país passou de rejeitar a ideia “burguesa” de manter um cachorro como “pet” durante a Revolução Cultural de Mao Zedong (1966-1976) para gastar milhões em um cachorro da moda.
Impressionado com o mercado de luxo de cachorros na China, o VICE fez uma reportagem em que tenta explicar como um mastim tibetano –que, durante certo tempo, foi símbolo de status social– chegou a valer US$ 500 mil ou, em casos extremos, US$ 1,5 e US$ 3 milhões.
De toda forma, o tempo do mastim parece já ter passado, segundo uma matéria do jornal “The New York Times” de abril desse ano. A jornal diz que o mastim é “coisa de 2013”, assim como outros símbolos de luxo que rapidamente perderam espaço na sociedade, seja por desinteresse, pelo temor sobre os rumos da economia ou a campanha contra a corrupção.
O texto conta que os criadores da raça enfrentam, hoje, dificuldade para vender os animais mesmo a preços consideravelmente mais modestos. E que alguns cães da raça, abandonados, chegaram a ser resgatados por grupos de defesa dos animais do destino de virar comida barata.
Se esses foram resgatados a tempo, milhares de outros viraram comida nos últimos dias, em Yulin. Em sua última publicação, a página do Facebook dedicada a interromper o festival deste ano parabeniza os seguidores que ajudaram a dar publicidade à campanha contra Yulin e afirma esperar por uma mudança na China, no curto prazo. Nos resta esperar para ver –será que teremos um Yulin 2016?