Como viver sem a mandioca?

Por johanna nublat

É difícil pensar a gastronomia brasileira sem algumas de suas estrelas, como o pão de queijo, a farofa, o bobó de camarão, a tapioca, a mandioca frita e tão variados tipos de bolos.

Todos esses que citei têm em comum o fato de conterem mandioca ou farinhas dela derivadas –o que não se aplica, claro, a todos os tipos de bolo.

Essa paixão nacional, digamos, fez a presidente Dilma Rousseff “saudar a mandioca” em um discurso que deu o que falar, feito no mês passado. Nas palavras da presidente, a mandioca é “uma das maiores conquistas do Brasil”.

Pois bem, os chineses não comem mandioca. Em Pequim, é possível encontrar polvilho e pérolas de tapioca em alguns supermercados. E olhe lá.

Mas, curiosamente, a China é o maior importador de mandioca, usada basicamente para produção de biocombustível e para alimentar animais. Não vou dizer que nenhuma mandioca é comida nesse país tão grande –até porque há, por aqui, uma pequena produção–, mas, se é consumida como alimento, é em uma pequena proporção.

Não ter a mandioca por aqui é, possivelmente, o principal “golpe” contra a comida brasileira nesse canto do mundo. Feijão preto e marrom, leite condensado, azeite de dendê (“palm oil”), leite de coco, arroz e cachaça são encontráveis. Algumas frutas (como goiaba e maracujá) e doces (como os derivados das nossas frutas), por outro lado, ficam na lista dos difíceis (ou também impossíveis) de serem achados.

Talvez por isso e pela enorme distância cultural entre a China e o Brasil, os chineses conhecem muito pouco da nossa gastronomia. Em Pequim, hoje, há um restaurante que serve churrasco brasileiro, e um outro que tem uma brasileira como chef-executiva e, assim, carrega algum toque brasileiro no cardápio.

Quem mora em Pequim teve a chance de ver um pouco da cultura e culinária brasileiras entre o final de junho e o começo de julho, com o festival gastronômico brasileiro, organizado pelo hotel Renaissance (que sediou o evento nesse ano), pela Latam e pela embaixada do Brasil.

O comando das panelas foi do chef Elia Schramm, do Laguiole (no MAM-RJ), que listou no cardápio versões de feijoada, moqueca, brigadeiro, barriga de porco, cheesecake de goiabada, bacalhau e churrasco.

Funcionários de agências de turismo de Pequim durante aula de culinária brasileira
Funcionários de agências de turismo de Pequim durante aula de culinária brasileira (Johanna Nublat/ julho de 2015)

Um momento diferente no festival foi uma aula de culinária brasileira para representantes das principais agências de turismo de Pequim. No cardápio estava a moqueca, que, como resumiu o chef, parece ser mesmo um prato simpático para o público chinês.

“Peixe, pimenta e arroz. Tudo o que o chinês gosta.”