É difÃcil pensar a gastronomia brasileira sem algumas de suas estrelas, como o pão de queijo, a farofa, o bobó de camarão, a tapioca, a mandioca frita e tão variados tipos de bolos.
Todos esses que citei têm em comum o fato de conterem mandioca ou farinhas dela derivadas –o que não se aplica, claro, a todos os tipos de bolo.
Essa paixão nacional, digamos, fez a presidente Dilma Rousseff “saudar a mandioca” em um discurso que deu o que falar, feito no mês passado. Nas palavras da presidente, a mandioca é “uma das maiores conquistas do Brasil”.
Pois bem, os chineses não comem mandioca. Em Pequim, é possÃvel encontrar polvilho e pérolas de tapioca em alguns supermercados. E olhe lá.
Mas, curiosamente, a China é o maior importador de mandioca, usada basicamente para produção de biocombustÃvel e para alimentar animais. Não vou dizer que nenhuma mandioca é comida nesse paÃs tão grande –até porque há, por aqui, uma pequena produção–, mas, se é consumida como alimento, é em uma pequena proporção.
Não ter a mandioca por aqui é, possivelmente, o principal “golpe” contra a comida brasileira nesse canto do mundo. Feijão preto e marrom, leite condensado, azeite de dendê (“palm oil”), leite de coco, arroz e cachaça são encontráveis. Algumas frutas (como goiaba e maracujá) e doces (como os derivados das nossas frutas), por outro lado, ficam na lista dos difÃceis (ou também impossÃveis) de serem achados.
Talvez por isso e pela enorme distância cultural entre a China e o Brasil, os chineses conhecem muito pouco da nossa gastronomia. Em Pequim, hoje, há um restaurante que serve churrasco brasileiro, e um outro que tem uma brasileira como chef-executiva e, assim, carrega algum toque brasileiro no cardápio.
Quem mora em Pequim teve a chance de ver um pouco da cultura e culinária brasileiras entre o final de junho e o começo de julho, com o festival gastronômico brasileiro, organizado pelo hotel Renaissance (que sediou o evento nesse ano), pela Latam e pela embaixada do Brasil.
O comando das panelas foi do chef Elia Schramm, do Laguiole (no MAM-RJ), que listou no cardápio versões de feijoada, moqueca, brigadeiro, barriga de porco, cheesecake de goiabada, bacalhau e churrasco.
Um momento diferente no festival foi uma aula de culinária brasileira para representantes das principais agências de turismo de Pequim. No cardápio estava a moqueca, que, como resumiu o chef, parece ser mesmo um prato simpático para o público chinês.
“Peixe, pimenta e arroz. Tudo o que o chinês gosta.”