Qual país detém maior poder de convencimento sem uso da força (militar ou econômica) e exerce atração positiva para conseguir o que quer? Em outros termos, quem tem mais “soft power”?
Segundo estudo lançado pela consultoria de comunicação Portland, britânica, o “top 5 do soft power” seria: Reino Unido em primeiro lugar, seguido por Alemanha, Estados Unidos, França e Canadá.
Num ranking de 30 países, o Brasil ficou na 23ª posição e a China conquistou apenas a 30ª.
O estudo da Portland –em parceria com o Facebook e a ComRes– é uma tentativa de criar um índice que contempla dados objetivos e percepções subjetivas para formar um ranking do “soft power” no mundo.
Apesar de ter um longo passado, esse termo “soft power” foi cunhado em 1990 pelo professor de Harvard Joseph Nye, como oposição à tradicional forma de convencimento entre países, o “hard power” –que, por sua vez, envolve coerção, intervenção militar, indução de pagamentos e sanções econômicas–, explica o estudo da Portland.
Mas, justamente por não se prender a ações tão palpáveis, o “soft power” é difícil de ser mensurado. “Primeiro, ele é inerentemente subjetivo e sua influência com frequência depende do alvo em questão”, diz o relatório da consultoria britânica. “Em segundo lugar, ele pode ser efêmero. Reservas de ‘soft power’ que foram construídas ao longo de décadas podem desaparecer durante a noite com algumas decisões ruins. E, finalmente, as fontes de ‘soft power’ são numerosas e podem ser de difícil mensuração.”
O estudo é constituído de duas partes: uma com critérios objetivos baseados na influência de cada país em termos de cultura, ambiente digital, governo, engajamento, educação e atração exercida pelo modelo econômico do país; e uma subjetiva, medida por pesquisa de opinião a respeito de gastronomia, produtos tecnológicos, cordialidade, cultura, produtos de luxo, política exterior e habitabilidade.
Foram consideradas 50 países na análise, abarcando as principais potências, em todas as regiões geopolíticas; os 30 primeiros colocados foram classificados.
Sobre o Brasil, o estudo afirma que é o país com as melhores fontes de “soft power” na América do Sul. “Na verdade, o Brasil foi o país do ‘BRICS’ com a melhor performance. Recentemente, o Brasil sediou a Copa do Mundo de 2014 e o fará de novo com as Olimpíadas de 2016 no Rio. Mas o Brasil também luta contra a corrupção –ilustrada pelo atual escândalo da Petrobras– assim como questões a respeito da desigualdade.”
Já a posição alcançada pela China –a última no ranking dos 30 países– é, “talvez, a grande surpresa nos resultados do índice”, avalia a Portland.
Segundo explica o estudo, a China lançou uma ofensiva para construir “soft power” em 2007, com investimentos de dezenas de bilhões de dólares. Como exemplos de investimento, a Portland cita a agência estatal de notícias Xinhua, os Institutos Confúcio pelo mundo e um leque de projetos de desenvolvimento e ajuda a outros países. “Num momento em que muitos países estão cortando financiamento a instituições como essas, a China vem impulsionando a expansão de fontes de ‘soft power’.”
O que puxou a nota chinesa para baixo, diz o relatório, foram questões ligadas a restrições de direitos individuais, falta de uma imprensa livre, aversão à crítica política, problemas com o uso da rede social –já que as internacionais, como Facebook, Twitter e Instagram, são proibidas no país– e a percepção da política internacional.
Será interessante acompanhar a eventual evolução da China nesse ranking, considerando os pesados investimentos anunciados pelo país, nos últimos meses, como ajuda financeira a países de todas as partes do mundo –incluindo, aqui, o Brasil.