Os enganos da urbanização chinesa

Por johanna nublat

Quem vê o caos das grandes cidades da China, como Pequim, com seus enormes engarrafamentos e a pesada poluição, facilmente concorda com a política oficial de limitar o crescimento das metrópoles e tentar desenvolver áreas pouco exploradas do país.

Mas a equação não é assim tão simples, segundo um artigo escrito pelo professor Lu Ming, da Shanghai Jiao Tong University e da Fudan University, e publicado no site do prestigiado Paulson Institute.

Lu Ming afirma que, em relação à urbanização, o governo central chinês tem três preocupações sem pé na realidade. A primeira é que a urbanização vai levar necessariamente à redução das terras cultiváveis do país. De acordo com o professor, uma parte importante da redução dessas terras está relacionada a campanhas de reflorestamento na China. Além disso, ele argumenta, é possível utilizar, para produção, áreas do campo hoje tomadas por moradias vazias.

Outro mito, diz o artigo, é que o crescimento das cidades vai piorar a qualidade de vida, com mais trânsito e poluição. O professor afirma que a experiência internacional vem mostrando que é possível contornar esses problemas.

O terceiro e mais particular mito envolve o sistema de “hukou”, um registro que prende a pessoa à cidade de origem da sua família. Isso significa que, fora dessa cidade, a pessoa não tem acesso a serviços públicos como saúde, benefícios sociais e, possivelmente, escola. Isso não impede milhões de pessoas de migrarem para as grandes cidades, mas faz delas cidadãos de segunda-classe.

Ming afirma que são superestimados os cálculos que apontam o alto custo de formar o sistema de “hukou”, permitindo a livre fixação de pessoas no território. E, além disso, diz, a legalização desse grupo de pessoas pode aumentar o consumo nas cidades.

No artigo, o professor ainda aponta o que ele vê como distorções na atual política de urbanização chinesa, como a pressão do governo para o desenvolvimento de centros urbanos no Centro e no Oeste do país, e de cidades de médio porte, quando o interesse das pessoas é migrar para os grandes centros e para a costa Sudeste.

Consequência dessas distorções, afirma, foi a criação de “cidades-fantasma”, distritos urbanos construídos, mas que não atraíram interesse por moradia ou investimento e que acabaram gerando grande endividamento desses governos locais.

No artigo, o professor também sugere mudanças na atual política.

Esse é um tópico bastante sensível para os chineses, cansados da poluição das cidades e em busca de melhor qualidade de vida. Veremos até que ponto o governo vai ouvir esses apelos.