A China tem, hoje, quase “um Canadá” de homens a mais que mulheres. Essa diferença supera 33 milhões de pessoas, segundo informações já divulgadas pela imprensa chinesa.
Esse não é um desequilíbrio normal, apesar de ser seguido de perto por outros países –boa parte também na Ásia. A China tem, atualmente, a taxa de desigualdade de gênero no nascimento mais alta do mundo, diz uma análise divulgada, em 2014, pelo Unicef China (braço das Nações Unidas para a infância).
“Dados do censo indicam que a taxa que indica a proporção entre gêneros começou a ultrapassar a média global nos anos 1980 e vem crescendo constantemente desde então, passando de 109 homens nascidos para cada 100 mulheres em 1982 para 118 em 2010”, diz o documento do Unicef.
Especialistas atribuem esse desequilíbrio ao aborto e ao abandono de meninas por um período longo de tempo.
A década de 1980 é, justamente, a que viu ser estabelecida, na China, a política de filho único, em que a regra geral é permitir apenas um filho por casal. Exceções permitem mais de um filho, por exemplo, a depender do local de moradia da família (se na área rural ou urbana) e do número de irmãos dos pais da criança.
Na semana passada, o Partido Comunista Chinês anunciou que iria acabar com essa tão controversa política, autorizando dois filhos por casal como regra geral.
Há quem atribua esse desequilíbrio demográfico, pelo menos em parte, à política de filho único, que teria radicalizado a preferência já existente dos chineses por filhos homens. Existem várias teorias a respeito dessa preferência histórica: é o filho homem quem carrega o sobrenome da família; as mulheres tradicionalmente se afastavam de suas famílias, migrando para a do marido; famílias do campo preferem meninos para ajudar na lavoura; e os pais dependem dos filhos para sua aposentadoria.
Mesmo com a mudança na política de natalidade, anunciada há alguns dias, essa disparidade promete ser um grande tormento para o país. Além de questões econômicas, haverá um exército de homens em idade de se casar sem que haja candidatas em número suficiente.
Frente a essa questão, um professor chinês de economia provocou polêmica, no final do mês passado, ao sugerir o casamento entre dois homens e uma mulher. Segundo um post do blog “Sinosphere”, do “New York Times”, o professor explica que a abordagem é puramente econômica, o que não foi suficiente para evitar uma onda de críticas pela proposta ousada.