Até logo, Pequim

Por johanna nublat

Outro dia, em um restaurante de Pequim, me perguntaram se eu queria beber água fria ou quente.

“Quente”, respondi feliz, pensando na sensação aconchegante de receber um copo de água quente em um dia tão frio.

Há pouco mais de um ano, quando me mudei para a China, o hábito chinês de tomar água quente durante as refeições me soava absolutamente esquisito. E perigoso, já que a água servida nos restaurantes vem no copo –ou seja, sabe-se lá de onde aquela água sai.

Comer de “kuaizi” (os dois palitinhos) ou de talher se tornou indiferente ao longo desse tempo; na maior parte das vezes, não me dou conta se estou usando um ou outro. Os pratos pedidos nunca chegam juntos numa mesa de restaurante, já nem espero para começar a comer.

Nesse tempo, aprendi a enfrentar o trânsito caótico de Pequim: primeiro como pedestre, depois como motorista e, por fim, ciclista. Ainda não consigo dizer qual é a forma menos agressiva (a mais estressante, certamente, é atrás do volante).

Viajar se tornou um prazer nos confortáveis trens chineses. Em trem rápido ou local, já cruzei esse país de Norte a Sul seis vezes. Em todas elas, carreguei minha lancheira para as longas horas da viagem, como sempre fazem os chineses.

Tive o susto inicial de não encontrar nada barato para comprar (não é tudo feito aqui?), para depois descobrir o que é barato e onde encontrar as pechinchas. Ah, sim, sempre barganhando, algo que exige uma paciência infinita.

No primeiro semestre, fiquei doente todos os meses. Depois aprendi onde comer e/ou me acostumei com os germes locais (talvez seja a tal da água quente?!).

As três grandes dificuldades da temporada, que se encerra agora: 1) A poluição que, de tempos em tempos, avança sobre Pequim e deixa todos deprimidos; 2) A língua, que exige muita dedicação para ser aprendida (e, sem ela, a vida se torna bem complicada); 3) A distância do Brasil, física e “psicológica”, digamos.

Os chineses com quem convivi foram calorosos, curiosos e relaxados, o que me faz pensar que são bem parecidos conosco brasileiros –sem falar no amor pelo futebol e por nossos jogadores. Por outro lado, alguns hábitos e a dificuldade da língua podem fazer alguém pensar que pousou em outro planeta.

Deixo Pequim no final desta semana, e a China segue sendo um mistério para mim.

Obrigada pela leitura!